segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Memorial do Convento - capítulos 6 a 12

Capítulo VI
  • Visão crítica das leis comerciais.
  • Narrativa de João Elvas, a Baltasar, sobre um suposto ataque dos franceses a Lisboa (que mais não era do que a chegada de uma frota com bacalhau).
  • Conflito de Baltasar: saber a cor dos olhos de Blimunda.
  • Deslocação do Padre Bartolomeu Lourenço ao Paço para interceder por Baltasar (a fim de este receber uma pensão de guerra) e compromisso de falar com o Rei, caso tarde a resposta.
  • Apresentação, por João Elvas, de Bartolomeu Lourenço como o Voador (as diversas tentativas levadas a cabo pelo padre para voar, justificando-se, este, que a necessidade está na base das conquistas do homem; o conhecimento da mãe de Blimunda, dadas as visões que esta tinha de pessoas a voar).
  • Questão de Baltasar ao padre: o facto de Blimunda comer pão, de manhã, antes de abrir os olhos.
  • Apresentação da passarola a Baltasar, pelo Padre B. Lourenço (S. Sebastião da Pedreira).
  • Descrição da passarola, a partir do desenho que o padre mostra a Baltasar.
  • Convite do Padre para que Baltasar o ajude na construção da passarola.

Capítulo VII
  • Trabalho de Baltasar num açougue.
  • Evolução da gravidez da rainha, tendo o rei de se contentar com uma menina.
  • Rendição das frotas portuguesas do Brasil aos franceses.
  • Visita de Baltasar e Blimunda à zona enfeitada para o baptismo da princesa, estando aquele mais cansado do que habitualmente, por carregar tanta carne para o evento.
  • Morte do frade que formulou a promessa real; fidelidade de D. João V à promessa.

Capítulo VIII
  • Relação amorosa de Baltasar e Blimunda.
  • Procura de Baltasar a propósito do misterioso acordar de Blimunda: esta conta-lhe que, em jejum, consegue ver o interior das pessoas; daí comer o pão ao acordar para não ver o interior de Baltasar.
  • Indicação de Blimunda, a Baltasar, acerca do seu dom: vê o interior dos outros e “vê” a nova gravidez da rainha.
  • Falha na obtenção da tença pedida ao Paço para Baltasar e despedimento do local onde este trabalhava (açougue).
  • Nascimento do segundo filho do rei, o infante D. Pedro.
  • Deslocação de El-rei a Mafra, para escolher a localização do convento (um alto a que chamam Vela).

Capítulo IX
  • Auxílio de Baltasar ao padre Lourenço na construção da passarola, tendo-lhe este dado a chave da quinta do duque de Aveiro, onde se encontra a “máquina de voar”.
  • Visita de Baltasar à quinta, acompanhado de Blimunda.
  • Inspecção de Blimunda, em jejum, à máquina em construção para descobrir as suas fragilidades.
  • Atribuição, pelo Padre B. Lourenço, dos apelidos de Sete-Sóis e Sete-Luas, respectivamente, a Baltasar e a Blimunda (ele vê “às claras” e ela “vê às escuras”).
  • Deslocação do Padre à Holanda, para aprender com os alquimistas a fazer descer o éter das nuvens (necessário para fazer voar a passarola).
  • Realização de novo auto-de-fé, mas Baltasar e Blimunda permanecem em S. Sebastião da Pedreira.
  • Partida de Baltasar e Blimunda para Mafra e do padre para a Holanda, ficando aqueles responsáveis pela passarola.
  • Ida à tourada, antes de Baltasar e Blimunda partirem de Lisboa.

Capítulo X
  • Visita de Baltasar à família, com apresentação de Blimunda e explicação da perda da mão.
  • Vivência conjunta e harmoniosa na família de Baltasar.
  • Venda das terras do pai de Baltasar, por causa da construção do convento.
  • Trabalho procurado por Baltasar.
  • Comparação entre a morte e o funeral do filho de dois anos da irmã de Baltasar e a morte do infante D. Pedro.
  • Nova gravidez da rainha, desta vez do futuro rei.
  • Comparação dos encontros de Baltasar com Blimunda e do rei com a rainha.
  • A frequência dos desmaios do rei e a preocupação da rainha.
  • O desejo de D. Francisco, irmão do rei, casar com a rainha, à morte deste.



Capítulo XI
  • Regresso de Bartolomeu Lourenço da Holanda, passados três anos, e o abandono da abegoaria (quinta de S. Sebastião da Pedreira).
  • Constatação do padre de que Baltasar cuidara da passarola, conforme lhe havia pedido.
  • Deslocação a Coimbra, passando por Mafra para saber de Baltasar e Blimunda.
  • Reflexão sobre o papel que cada um tem na construção do futuro, não estando este apenas nas mãos de Deus.
  • Atribuição de bênção a quem a pede, deparando o padre, no caminho para Mafra, com trabalhadores (comparados a formigas).
  • Conversa do Padre com um pároco, ficando a saber que Baltasar e Blimunda casaram e onde vivem.
  • Visita do padre ao casal de amigos e conversa sobre a passarola.
  • Bartolomeu Lourenço na casa do padre Francisco Gonçalves, a pernoitar.
  • Encontro de Blimunda e Baltasar com padre B. Lourenço, de manhã muito cedo, quando ela ainda está em jejum.
  • Apresentação, a Baltasar e Blimunda, do resultado de aprendizagem do Padre na Holanda: o éter que fará voar a passarola vive dentro das pessoas (não é a alma dos mortos, mas a vontade dos vivos).
  • Pedido de auxílio do Padre a Blimunda: ver a vontade dos homens (esta consegue ver a vontade do padre) e colhê-la num frasco.
  • Deslocação de Bartolomeu Lourenço a Coimbra para aprofundar os seus estudos e se tornar doutor.
  • Ida de Blimunda e Baltasar para Lisboa: ela, para recolher as vontades; ele, para construir a passarola.

Capítulo XII
  • Tomada da hóstia, em jejum: Blimunda descobre que o que está dentro desta é o mesmo que está dentro do homem – a religião.
  • Festividades da inauguração da construção do convento e do lançamento da primeira pedra (três dias), a ter lugar numa igreja–tenda ricamente decorada e com a presença de D. João V.
  • Baltasar e Blimunda na inauguração.
  • Passada uma semana, partida do casal para Lisboa.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

GUERRA FRIA

Guerra Fria – A consolidação de um mundo bipolar

                O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até meados dos anos 80, altura em que o bloco soviético mostrou os primeiros sinais de fraqueza.
                Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente, gerando um clima de hostilidade e insegurança que deixou o mundo num permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional que designamos por Guerra Fria.

Guerra Fria: Expressão criada para designar o estado de tensão entre os EUA e a URSS a seguir à 2ª guerra mundial, que se caracterizou pelo facto de as duas potências não registarem qualquer confronto directo, mas interferirem em conflitos à escala regional em campos opostos.

                A guerra fria foi uma autêntica “guerra de nervos” em que cada bloco se procurou superiorizar ao outro. Uma gigantesca máquina de propaganda inculcava nas populações a ideia da superioridade do seu sistema e a rejeição e o temor do lado contrário, ao qual se atribuíam as intenções mais sinistras e os planos mais diabólicos.
                Mais do que ambições hegemónicas das duas superpotências, eram duas concepções opostas de organização política, via económica e estruturação social que se confrontavam: de um lado, o liberalismo, assente sobre o princípio da liberdade individual; do outro, o marxismo, que subordina o indivíduo ao interesse da colectividade.

1.2.1. O Mundo Capitalista
ê A política de alianças dos Estados Unidos

Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou também a oficializar-se. A tensão provocada pelo bloqueio de Berlim acelerou as negociações que conduziram, em 1949, ao Tratado do Atlântico Norte, firmado entre os Estados Unidos, o Canadá e 10 nações europeias. A operacionalização deste tratado deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (ou NATO, em inglês).
O pacto da OTAN é bem demonstrativo da desconfiança que então impregnava as relações internacionais. A aliança apresenta-se, assim, como uma organização puramente defensiva, empenhada em resistir a um inimigo que está omnipresente: a União Soviética.
        Esta sensação de ameaça e a vontade de consolidar a sua área de influência lançaram os EUA numa autêntica “pactomania” que os levou a constituir um vasto leque de alianças, um pouco por todo o mundo. Para além da OTAN, firmaram-se alianças multilaterais na América. Estas alianças foram complementadas com diversos acordos de carácter político e económico, de tal forma que, cerca de 1959, 3 quartas partes do mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco americano.



ê A política económica e social das democracias ocidentais
No fim da 2ª guerra mundial, o conceito de democracia adquiriu, no ocidente, um novo significado. Para além do respeito pelas liberdades individuais, do sufrágio universal e do multipartidarismo, considerou-se que o regime democrático deveria assegurar o bem-estar dos cidadãos.
As duas forças políticas que, nesta época, sobressaíram na Europa – o socialismo reformista e a democracia cristã – encontravam-se fortemente imbuídas de preocupações sociais.
Embora de quadrantes muito diferentes, socialistas e democratas-cristãos saíram da guerra prestigiados.
É assim que, logo em 1945, as eleições inglesas dão a vitória ao Partido Trabalhista, liderado por Clement Atlee, que substitui Winston Churchill (Partido Conservador) à frente do governo britânico.
Um pouco por todo o lado, partidos de orientação idêntica viram elevar-se os seus resultados eleitorais tendo, em alguns casos, tomando também as rédeas do poder, como aconteceu na Holanda, nos países Escandinavos (Dinamarca, Noruega, Suécia) e na República Federal Alemã.
Os adeptos da social-democracia conjugam a defesa do pluralismo democrático e dos princípios da livre concorrência económica com o intervencionismo do Estado, cujo objectivo é o de regular a economia e promover o bem-estar dos cidadãos.

Social-Democracia: Corrente ideológica cujas origens remontam ao pensamento de Eduard Bernstein, nos finais do séc.XIX, que, partindo da crítica ao sistema capitalista e à necessidade de revisão do marxismo, ao negar nomeadamente a luta de classes, defendeu a construção do socialismo através de reformas graduais levadas a cabo por governos resultantes de processos eleitorais democráticos.      

A democracia-cristã tem a sua origem na doutrina social da igreja que condena os excessos do liberalismo capitalista, atribuindo igualmente aos estados a missão de zelar pelo bem-comum.
Os democratas-cristãos consideram que o plano temporal e espiritual embora distintos, não se podem separar. Os princípios do cristianismo devem enformar todas as acções dos cristãos. Propõem uma orientação profundamente humanista, alicerçada na liberdade, na justiça e na solidariedade. Procura-se subverter o espírito essencialmente laico da democracia transformando-o num campo de aplicação de valores intrinsecamente cristãos.

Sociais-Democratas e Democratas-cristãos convergem no mesmo propósito de promover reformas económicas e sociais profundas. Na Europa do pós-guerra, os governos lançam-se num vasto programa de nacionalizações. O Estado torna-se o principal agente económico do país, o que lhe permite exercer a sua função reguladora da economia.


Paralelamente, revê-se o sistema de impostos, reforçando-se o carácter progressivo das taxas. Um tal conjunto de medidas modificou, de forma profunda, a concepção liberal de Estado dando origem ao Estado Providência.
·       A afirmação do Estado-Providência
A superação das dificuldades associadas à crise de 1929 implicou o aumento da intervenção do Estado nos planos económico e social e o nascimento do Estado-Providência ou do bem-estar social [onde cada cidadão tem asseguradas as suas necessidades básicas “do berço ao túmulo”].
                Ainda durante a guerra, o empenhamento do Estado nas questões sociais foi activamente defendido por Beveridge. Este confiava que um sistema social alargado teria como efeito a eliminação dos “cinco grandes males sociais”: carência, doença, miséria, ignorância e ociosidade.
                A abrangência das medidas adoptadas em Inglaterra e a ousadia do estabelecimento de um sistema de saúde assente na gratuidade total dos serviços médicos e extensivo a todos os cidadãos, serviram de modelo à maioria dos países europeus.
                O sistema de protecção social generaliza-se a toda a população: passando a acautelar as situações de desemprego, acidente, velhice e doença; estabelecem-se prestações de ajuda familiar. Ampliam-se as responsabilidades do Estado no que respeita  à habitação, ao ensino e à assistência médica.

                Este conjunto de medidas visa um duplo objectivo:
·         Reduz a miséria e o mal-estar social contribuindo para uma repartição mais equitativa da riqueza;
·         Assegura uma certa estabilidade à economia, já que evita descidas drásticas da procura como a que ocorreu durante a crise dos anos 30.


·       A prosperidade Económica

O crescimento económico do pós-guerra estruturou-se em bases sólidas. Os governos não só assumiram grandes responsabilidades económicas, como delinearam planos de desenvolvimento coerentes, que permitiram estabelecer prioridades, rentabilizar a ajuda Marshall e definir directrizes futuras. Externamente, os acordos de Bretton Woods e a criação de espaços económicos alargados (como a CEE) tiveram um papel semelhante, harmonizando e fomentando as relações económicas internacionais.
O capitalismo emergiu dos escombros da guerra e atingiu o seu auge. Entre 1945 e 1973, a produção mundial mais do que triplicou. As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise. As taxas de crescimento especialmente altas de certos países, como a RFA, a França, o Japao, surpreenderam os analistas, que começaram a referir-se-lhes como “milagre económico”. Estes cerca de 30 anos de uma prosperidade material sem precedentes ficaram na História como os “Trinta Gloriosos”. 
A expansão económica dos 30 Gloriosos conjuga o desenvolvimento de processos já iniciados com aspectos completamente novos. Podemos destacar:
·       A aceleração do progresso tecnológico, que atingiu todos os sectores;
·       O recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do carvão;
·       O aumento da concentração industrial e do número de multinacionais;
·       A modernização da agricultura;
·       O aumento significativo da população activa. Para além de mais numerosa, a mão-de-obra tornou-se também mais qualificada;
·       O crescimento do sector terciário.

ê A sociedade de consumo
O efeito mais evidente dos Trinta Gloriosos foi a generalização do conforto material. A sociedade de consumo transformou os lares e o estilo de vida da maioria da população dos países capitalistas.         
Nesta sociedade de abundância, o cidadão comum é permanentemente estimulado a despender mais do que o necessário. Multiplicam-se os grandes espaços comerciais, verdadeiros santuários do consumo, onde os objectos, estrategicamente dispostos, se encontram ao alcance da mão do potencial comprador. Uma publicidade bem orquestrada lembra as pequenas e grandes maravilhas a que todos “têm direito” e que as vendas a crédito permitem adquirir.
O consumismo instala-se duradouramente e torna-se o emblema das economias capitalistas da segunda metade do século XX.


1.2.2 O Mundo Comunista

                Quando o 2º conflito mundial terminou a URSS foi responsável pela implantação de regimes comunistas, inspirados no modelo soviético, por todo o mundo.
                Após a 2ª Guerra Mundial, o reforço da posição militar soviética e o desencadear do processo de descolonização criaram condições favoráveis quer à extensão do comunismo, quer ao estreitamento dos laços de amizade e cooperação entre Moscovo e os países recentemente independentes. A URSS saiu, assim, do isolamento a que estivera votada desde a Revolução de Outubro, alargando a sua influência nos 4 continentes.



·       Europa
A primeira vaga da extensão do comunismo atingiu a Europa Oriental e fez-se sob a pressão directa da URSS. Entre Julho de 1947 e Julho de 1948, as coligações governamentais desfizeram-se: o partido comunista tornou-se partido único.
Os novos países socialistas receberam a designação de democracias populares.
Democracias Populares: Designação dada ao regime do partido único instituído nos países do Leste Europeu, construído à semelhança do modelo soviético, e que, adoptando a ideologia comunista, exerceu o poder de forma absoluta e controlou toda a sociedade.
               
                Defendem que a gestão do Estado pertence, em exclusivo, às classes trabalhadoras. Estas, que constituem a esmagadora maioria da população, “exercem o poder” do Partido Comunista.
                Depois da implantação do comunismo, a URSS exerceu um apertado controlo sobre os seus novos aliados.
                Em 1955, os laços entre as democracias populares foram reforçados com a constituição do Pacto de Varsóvia, aliança militar que previa a resposta conjunta a qualquer eventual agressão. O Pacto Varsóvia constituiu uma organização completamente oposta à OTAN. A união soviética impôs um modelo único, do qual não admitiu desvios.
                Em 1956, na Hungria, e em 1968, em Praga (Checoslováquia), a URSS reprimiu, com os tanques militares do Pacto de Varsóvia, os levantamentos sociais que contestavam o poder soviético.
                Em 1961, a fim de evitar a passagem de cidadãos de Berlim Leste para Berlim Oeste, de onde fugiram para a RFA e para outros países ocidentais, a RDA ordenou a construção do muro de Berlim.

·       Ásia
Fora da Europa, o único país em que a implantação do regime comunista se ficou a dever à intervenção directa da URSS foi a Coreia. Entre 1950 e 1953 desenrolou-se, na Coreia, uma guerra civil entre o norte, a República Popular da Coreia, comunista, apoiada pela URSS e o sul, a República Democrática da Coreia, capitalista, sustentada pelos Estados Unidos. O final da guerra não unificou o país, tornando-se mais uma das questões por resolver da Guerra Fria.

Nos restantes casos, o triunfo do partido comunista ficou a dever-se a movimentos revolucionários nacionais que contaram, no entanto, com o incentivo ou o apoio declarado da URSS.
Tal é o caso da China, onde, em Outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a instauração de uma República Popular. Apesar de, posteriormente, se ter afastado da URSS, a China seguiu, nos primeiros anos do regime comunista, o modelo político e económico do socialismo russo.

·       América Latina
O p0nto fulcral da expansão comunista na América Latina foi Cuba, onde, um grupo de revolucionários, sob o comando de Fidel Castro e do Che Guevara.
                A influência soviética em Cuba confirma-se quando, em 1962, aviões americanos obtêm provas fotográficas da instalação, na ilha, de mísseis russos de médio alcance, capazes de atingir o território americano.
                A exigência firme de retirada dos mísseis, feita pelo presidente Kennedy, coloca o mundo perante a eminência de uma guerra nuclear entre as duas superpotências.
                Fruto do seu alinhamento com o bloco soviético, Cuba desempenhará também um papel activo na proliferação do comunismo.

·       África
A adopção de regimes sociais coincidiu com a 2ª vaga de descolonizações (por ex: nos anos 70 as ex-colónias africanas de Angola e Moçambique tornaram-se Estados Socialistas). 

ê Opções e Realizações da economia de direcção central
Após a 2ª Guerra Mundial, a planificação da economia nos regimes socialistas propiciou uma recuperação rápida dos prejuízos causados pelo esforço de guerra. Os planos quinquenais apostavam, sobretudo, na indústria pesada (siderurgia) e nas infra-estruturas. A URSS e os países de modelo soviético registaram um crescimento industrial tão significativo que ascenderam à 2ª posição da indústria mundial.
                No entanto, a par destas realizações, as economias da direcção central (dirigidas pelo Estado o qual abolia a iniciativa privada) evidenciavam fraquezas estruturais que comprometiam a longo prazo o seu sucesso:
O nível de vida das populações não acompanha esta evolução económica.
·        As jornadas de trabalho matem-se excessivas;
·        Os salários sobem a um ritmo muito lento e as carências de bens de toda a espécie mantêm-se;
·       A agricultura, a construção habitacional, as indústrias de consumo e o sector terciário avançam lentamente.
Nas cidades, que a industrialização fez crescer a um ritmo muito rápido, a população amontoa-se em bairros periféricos. As longas filas de espera para adquirir os bens essenciais tornam-se uma rotina diária.


ê Os bloqueios Económicos
Passando o primeiro impulso industrializador, as economias planificadas começam a mostrar, de forma mais evidente, as suas debilidades:
·       A planificação excessiva entorpece as empresas, que não gozam de autonomia na selecção das produções, do equipamento e dos trabalhadores, na fixação de salários e preços, ou na escolha de fornecedores e clientes;
·       Uma gestão burocrática limita-se a procurar cumprir as quantidades previstas no plano, sem atender à qualidade dos produtos ou ao potencial de rentabilidade dos equipamentos e da numerosíssima mão-de-obra;
·       Nas unidades agrícolas, a falta de investimento, a má organização e o desalento dos camponeses reflectem-se de forma severa na produtividade.


Implementou-se, nos anos 60, um conjunto vasto de reformas em praticamente todos os países da Europa Socialista. O exemplo é dado pela União Soviética.
                                Um novo plano, iniciado em 1959, reforça o investimento nas indústrias de consumo, na habitação e na agricultura. Ao mesmo tempo, a duração do trabalho semanal reduz-se (de 48 para 42 horas) bem como a idade da reforma, que se estende, aos trabalhadores agrícolas.
                                No entanto, os efeitos destas medidas ficaram muito aquém das espectativas. Na década de 70, sob a liderança de Leonidas Brejnev, a corrupção e a burocracia avolumaram-se, o que se traduziu pelo agudizar da estagnação.

                                As dificuldades soviéticas reflectiram-se, de forma mais ou menos grave, em todos os países satélites. A estagnação das economias de direcção central reflecte, sobretudo, as falhas do sistema, que se foram agravando ao longo das décadas.


1.2.2 A escala armamentista e o início da era espacial

ê A escala armamentista
Para além dos esforços postos na constituição de alianças internacionais, os 2 blocos procuravam preparar-se para uma eventual guerra, investindo grandes somas na concepção e fabrico de armamento cada vez mais sofisticado.
Nos primeiros anos do pós-guerra, os Estados Unidos tinham o segredo da bomba atómica, que consideravam a sua melhor defesa.
Quando, em Setembro de 1949, os Russos fizeram explodir a sua primeira bomba atómica, a confiança dos Americanos desmoronou-se.
Em 1952 os americanos testavam, no Pacífico, a 1ª bomba de hidrogénio, com uma potência 1000 vezes superior à bomba de Hiroxima.

        A corrida ao armamento tinha começado. No ano seguinte, os Russos possuíam também a bomba de hidrogénio e o ciclo reiniciou-se, levando as duas superpotências à produção maciça de armamento nuclear. O mundo viu também multiplicarem-se as armas ditas convencionais. No fim de 1950, os americanos consideravam obrigatório aumentar, tão depressa quanto possível, a força aérea, terrestre e naval em geral e a dos aliados num ponto em que não estivessem tão fortemente dependentes de armas nucleares.
        O investimento ocidental nas armas convencionais desencadeou, como era de esperar, uma igual estratégia por parte da URSS [afectou, em 1952, 80% do orçamento de Estado para despesas militares]
        Cada um dos blocos procurava persuadir o outro de que usaria, sem hesitar, o seu potencial atómico em caso de violação das respectivas áreas de influência. O mundo tinha resvalado, nas palavras de Churchill, para o equilíbrio instável do terror.

ê O início da era espacial
Durante a 2ª Guerra Mundial a Alemanha tinha secretamente desenvolvido a tecnologia dos foguetes e criado os primeiros mísseis. Em 1945, os cientistas envolvidos neste projecto emigraram para a URSS e para os Estados Unidos, onde desempenharam um papel relevante nos respectivos programas espaciais.
A URSS colocou-se à cabeça da conquista do espaço [em Outubro-1957 coloca em órbita o 1º satélite artificial da história].
A desolação dos Americanos, que até aí tinham considerado a URSS tecnologicamente inferior, foi grande. Na ânsia de igualarem a proeza russa, anteciparam o lançamento do seu próprio satélite, mas o foguetão que o impulsionava explodiu e a experiencia foi um fracasso.
Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho nacional das duas nações.

1.3. A afirmação de novas potências
1.3.1. O rápido crescimento do Japão
ê Os factores de desenvolvimento / O “milagre Japonês”
O “milagre japonês” beneficiou de uma conjuntura favorável. A ocupação americana modernizou as estruturas políticas e sociais do país. Os Estados Unidos disponibilizaram importantes ajudas financeiras e técnicas que permitiram uma rápida reconstrução económica (através do Plano Dodge); fizeram aprovar a Constituição de 1945; incentivaram o controlo da natalidade e o acesso ao ensino. Após a vitória de Mao Tsé-Tung na China, em 1949, o Japão passou a ser visto como um precioso aliado do bloco ocidental no Oriente.

Estabilidade política, assegurada pelo Partido Liberal-Democrata no poder desde 1955.
A mentalidade japonesa foi também um importante factor de crescimento. Os lucros foram reinvestidos continuamente e os trabalhadores chegavam a doar à empresa os seus pequenos aumentos de salário para promover a renovação tecnológica.
Esta ligação afectiva entronca na tradição japonesa do trabalho vitalício que transforma o patrão no protector dos seus funcionários, os quais, por sua vez, dedicam uma incondicional lealdade à empresa.
Munido de mão-de-obra abundante e barata e de um sistema de ensino abrangente mas altamente competitivo, o Japão lançou-se à tarefa de se transformar na 1ª sociedade de consumo da Ásia.

O primeiro desenvolvimento da economia japonesa decorreu entre 1955 e 1961. Neste curto período, a produção industrial praticamente triplicou.
Os sectores que, neste período, adquirem maior dinamismo são os da indústria pesada (construção naval, máquinas-ferramentas, química) e dos bens de consumo duradouros (tv’s, rádios, frigoríficos, etc.)
O comércio externo acompanha esta expansão: as exportações duplicam, assim como as importações.
Depois de um período de estagnação, no início dos anos 60, a economia japonesa conheceu um 2º surto de crescimento tão possante quanto o anterior.
Entre 1966 e 1971, a produção industrial duplicou e criaram-se 2,3 milhões de novos postos de trabalho. Além do desenvolvimento dos sectores clássicos (como a siderurgia) este surto de crescimento assenta, sobretudo, em novos sectores (produção de automóveis, tv’s a cores…)
Este 2º desenvolvimento fez do Japão a 3ª maior potência económica mundial, atrás dos EUA e da URSS.

1.3.2. O Afastamento da China do bloco soviético
O comunismo chinês foi marcado pela personalidade carismática do seu líder Mao Tsé-Tung.
Ao contrário do marxismo tradicional, Mao enfatizava o papel dos camponeses, aos quais atribuía a liderança revolucionária -> maoísmo.

Maoísmo: Regime instalado na China pelo Partido Comunista Chinês, chefiado por Mao Tsé-Tung, diferenciado do marxismo-leninismo, sua principal fonte de inspiração, pela substituição do proletariado pelo campesinato enquanto classe revolucionária, e pela Revolução Cultural, no sentido de acelerar a construção do comunismo.

O maoísmo assumiu como objectivo a revolução total protagonizada pelas masssas e não pelas estruturas de Poder, para isso, recorreu a grandes campanhas de natureza ideológica.
è Devia-se “agir de acordo com as necessidades e as aspirações das massas”

Mao lança, em 1957, uma campanha de “rectificação”       dos erros cometidos pelo Partido, cuja actuação parecia afastar-se das massas.


Esta política foi complementada, em 1958, com o “grande salto em frente”: que tinha por base o fomento da agricultura e a integração dos camponeses em comunas populares lideradas pelo Partido Comunista Chinês. A prioridade à indústria pesada foi então posta de lado e a ênfase passou para os campos, onde se deviam desenvolver tanto as produções agrícolas como pequenas industrias locais. No entanto, esta reforma redundou em fracasso (1960), pois os meios técnicos eram reduzidos e os métodos de trabalho utilizados nas oficinas eram antiquados.

Em vez da subserviência a Moscovo, Mao estabeleceu, ele mesmo, os fundamentos doutrinários de um socialismo nacionalista. Criticou o comunismo de Kruchtchev, acusando-o de não “escutar a opinião das massas”.

Em 1964 o culto a Mao e ao maoísmo foi estimulado através da chamada Revolução Cultural, movimento que pretendia aniquilar todas as manifestações culturais – na literatura, na arte, no ensino – que se afastassem do modelo socialista de Mao. A propaganda ideológica tinha por base o “livro vermelho” que reunia citações de Mao e que era venerado como detentor da verdade absoluta. A revolução cultural deu origem a excessos de agitação social que resultaram na humilhação, perseguição e assassínio de muitos cidadãos considerados contra-revolucionários.

Os esforços de Mao foram coroados de êxito quando, em 1971, o país entra para a ONU.

1.3.3. A ascensão da Europa
A Europa reconheceu a sua herança cultural comum e a necessidade de se unir para reencontrar a prosperidade económica e, se possível, a sua influência política.
ê Da CECA à CEE
O Primeiro passo consistente para a cooperação europeia resultou da Declaração Shumam, que pretendia a cooperação entre a França e a Alemanha no domínio da produção do carvão e do aço. Desta iniciativa resultou a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo). A CECA estabeleceria uma zona conjunta minero-siderurgica sob a orientação de uma Alta Autoridade supranacional.
Em 1957, surge, finalmente, a Comunidade Económica Europeia – CEE, constituída pelos 6 países referidos. A CEE, cujos fundamentos foram expressos no Tratado de Roma (1957) tinha objectivos predominantemente económicos:
·       Estabelecimento de um mercado comum;
·       Aproximação progressiva das políticas económicas;
·       Expansão económica contínua e equilibrada;
·       Livre prestação de serviços;
·       Estabelecimento de uma política comum na área da agricultura, dos transportes e da produção energética – é criada a EURATOM [Comissão Europeia de Energia Atómica – com um funcionamento independente da CEE]

A união aduaneira prevista no Tratado de Roma veio a concretizar-se em 1968, traduzindo-se, desde logo, num forte aumento das trocas intercomunitárias.

1.3.3. A segunda vaga de descolonizações
             A política de Não-Alinhamento

ê A descolonização Africana

O processo de descolonização em África seguiu o sentido norte-sul: primeiramente tornaram-se independentes os países do norte de África e, progressivamente, os países da África Negra foram reclamando autonomia, onde se organizam também movimentos nacionalistas que encabeçam a luta contra o estado colonizador.

Movimentos Nacionalistas: Expressão utilizada para designar a afirmação de valores, de interesses e de especificidades socioculturais que diferenciam uma nação de outras e que, no caso das colónias dependentes de países europeus, se confundiu com os movimentos de libertação constituídos com o objectivo de conseguir a autodeterminação das colónias.

Com o fim de criarem um sentimento de identidade nacional e de fazerem reviver o orgulho perdido, os líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do seu povo, a sua cultura comum, difundindo a ideia de que ela é tão válida como a civilização dos europeus civilizadores.  
A luta pela independência assume, assim, a dupla vertente de uma luta política e de uma luta contra a pobreza e o atraso económico
O processo independentista contou com o apoio da ONU, que, honrando os ideais de igualdade e justiça, se colocou inequivocamente ao lado dos povos dominados. Em 1960, a Assembleia Geral aprovou a Resolução de 1514 que consagra o direito à autodeterminação dos territórios sob administração estrangeira e condena qualquer acção armada das metrópoles.
1960 -> “O ano da descolonização”, o mundo viu nascer 18 novos países.

ê Um Terceiro Mundo

Nas 3 décadas que se seguiram ao conflito mundial constituíram-se cerca de 70 novos países na Ásia e na África -> são estes que constituem o Terceiro Mundo.

Estes países continuaram a explorar, através de grandes companhias, as matérias-primas, minerais e agrícolas do mundo subdesenvolvido, fornecendo-lhe, como no passado, produtos manufacturados.
Tal situação tem perpetuado o atraso destas regiões: por um lado, os lucros das companhias não são reinvestidos no local; por outro, enquanto o preço dos produtos industriais têm vindo a subir, o valor das matérias-primas, tem decaído
Considerada um verdadeiro neocolonialismo, tal situação foi, desde logo, denunciada pelas nações do Terceiro Estado, que reivindicaram, sem sucesso, a criação de uma “nova ordem económica internacional”.

Neocolonialismo: Palavra que designa algumas formas de domínio financeiro, tecnológico, económico, político ou cultural de um Estado sobre as suas antigas colónias ou sobre estados recentemente descolonizados.

ê A política de não-alinhamento

Para além da sua acepção económica, social, a expressão do Terceiro Mundo reveste também uma conotação política: os novos países representam a possibilidade de uma terceira via, uma alternativa relativamente aos blocos capitalista e comunista.
Os países saídos da descolonização cedo se esforçaram por estreitar os laços que os unem e por marcar posição na política internacional. Em 1955 convoca-se uma conferência para definir as linhas gerais de actuação dos países recém-formados. A conferência, em Bandung, na Indonésia, reuniu 29 delegações afro-asiáticas.  
Foi possível adoptar um conjunto de princípios que definem as posições políticas do Terceiro Mundo: condenação do colonialismo, rejeição da política dos blocos, apelo à resolução pacífica dos diferendos internacionais.
A conferência da Bandung teve um efeito notável no processo de descolonização
A mensagem da Bandung foi tomando corpo através de sucessivos encontros internacionais que desembocaram no Movimento dos Não-Alinhados, criado oficialmente na conferência de Belgrado, empenhando-se no estabelecimento de uma via política alternativa à bipolarização mundial.
O não-alinhamento atraiu um número crescente de países da Ásia, da África e da América e tornou-se o símbolo do sonho de independência e de liberdade das nações mais frágeis.
Embora muitas vezes designado por neutralismo, este movimento não teve por objectivo permanecer neutro face às grandes questões mundiais.

1.4. O termo da prosperidade económica: origens e efeitos

        Os “trinta gloriosos” anos de abundância e crescimento económico do mundo capitalista cessaram bruscamente, em 1973
        A crise afectou essencialmente os sectores siderúrgico, a construção naval e automóvel bem como o têxtil. Muitas empresas fecharam, outras reconverteram a sua produção e o desemprego subiu em flecha.
Paralelamente a inflação tornou-se galopante. Este fenómeno inédito recebeu o nome de estaglaçao, termo que aglutina as palavras estagnação e inflação.

ê Os factores da crise

A interrupção do crescimento económico nos anos 70 deveu-se, sobretudo, à conjugação de 2 factores: a crise energética e a instabilidade monetária.
Nos finais da década de 60, o petróleo era a fonte de energia básica de que dependiam os países industrializados.
Em 1973, os países do Médio Oriente, membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidiram subir o preço de venda do petróleo para o quádruplo, numa tentativa de pressionar o Ocidente a desistir de auxiliar Israel na guerra israelo-palestiniana.
Em 1979, a situação agravar-se-á com novas subidas de preço devido à crise política no Irão e à posterior guerra Irão-Iraque.
Estes “choques petrolíferos” que multiplicaram por 12 o preço do petróleo provocaram um acentuado aumento dos custos de produção dos artigos industriais e, consequentemente, o encarecimento dos artigos junto do consumidor, gerando uma escalada da inflação.  

Um outro factor determinante desta depressão económica foi a instabilidade monetária.
A excessiva quantidade de moeda posta em circulação pelos Estados Unidos levou o presidente Nixon a suspender a convertibilidade do dólar em ouro, o que desregulou o sistema monetário internacional. Segundo alguns analistas, foi esta instabilidade monetária, mais do que a crise energética, a responsável pelo enfraquecimento económico dos anos 70.

ê Uma crise relativa

A crise dos anos 70 introduziu um novo ciclo económico que intercala períodos de crescimento e estagnação.
       Ainda que a um ritmo mais lento, o crescimento económico manteve-se, alguns sectores industriais reconverteram-se, enquanto outros, ligados às novas tecnologias conheceram um forte impulso.
                Também no aspecto social esta crise não atingiu a dimensão estratégica da Grande Depressão. As estruturas do Estado Providência, reforçadas após o 2º conflito mundial, cumpriram cabalmente o seu papel, amparando o desemprego e evitando situações de miséria extrema e generalizada.