segunda-feira, 6 de junho de 2011

Orações



Felizmente 2

Conteúdos essenciais:
Modo dramático
Aspectos simbólicos
Paralelismo entre o passado e as condições históricas dos anos 60: denúncia da violência e da opressão
Valores da liberdade e do patriotismo



CLASSIFICAÇÃO LITERÁRIA DA OBRA
Trata-se de um drama narrativo de carácter épico. Segue a linha de Brecht e mostra o mundo e o homem em constante transformação; mostra a preocupação com o homem e o seu destino, a luta contra a miséria e a alienação e a denúncia da ausência de moral; alerta para a necessidade de uma sociedade solidária que permita a verdadeira realização do homem.
De acordo com Brecht, Sttau Monteiro proporciona uma análise crítica da sociedade, mostrando a realidade, de modo a levar os espectadores a reagir criticamente e a tomar uma posição.





Técnicas do teatro épico (brechtiano) para criar a distanciação:
Cenário: o luar, a fogueira
A interacção de múltiplas linguagens: luz, som, música, projecção de diapositivos…
A representação das personagens…
A narração de acontecimentos ocorridos no passado…
O papel activo do espectador: reflectir para agir.
A peça propõe uma reflexão sobre a dialéctica da revolução e da contra-revolução.





AS INDICAÇÕES CÉNICAS (FUNÇÕES)
AS DIDASCÁLIAS (no interior do texto)
entrada ou saída de personagens em cena
posição das personagens em cena (de pé, sentado, de costas)
movimentação cénica
Iluminação (jogo luz / sombra)
guarda-roupa
decoração / mobiliário (adereços)
pausas e tipo de discurso





AS INDICAÇÕES CÉNICAS (FUNÇÕES)
AS NOTAS À MARGEM:
explicações do autor / indicações aos actores
caracterização do tom de voz das personagens
apresentação da dimensão interior das personagens (estado de espírito)
indicações sonoras ou ausência de som
sugestão do aspecto exterior das personagens




.......



O espaço cénico
Os jogos de sombra / luz e a posição das personagens em palco contribuem para a representação do espaço físico e social.
O espaço físico
Lisboa – o macroespaço:
A Baixa (onde se situa a Regência);
O Rato (onde fica a casa do General Gomes Freire de Andrade e Matilde de Melo);
O Campo de Sant’Ana (local das execuções);
A Serra de Santo António (da qual se avista S. Julião da Barra);
Outras referências: a zona do Tejo e a Sé.
Lisboa é o espaço onde se inicia a rebelião do povo contra a opressão.





espaço social
O povo oprimido
A nobreza e o rei (o regime absolutista)
Os governadores e sua ideologia
A aliança entre Portugal e Inglaterra
Os delatores
A Maçonaria
        A injustiça e desigualdade sociais
        A opressão e falta de liberdade
O PARALELISMO HISTÓRICO-SOCIAL (SÉCULO XX)





A moeda
A renúncia à esperança através da venda da própria alma
A “traição” do povo
A traição da Igreja (a corrupção do Principal Sousa  as trinta moedas de Judas Escariote)
As cores:
VERMELHO: vida e morte; o sagrado
PRETO: luto opressivo
VERDE: esperança
A saia verde
EM VIDA: a esperança, a felicidade, o amor, a liberdade
NA MORTE: a alegria do reencontro, a tranquilidade





A fogueira:
PRESENTE: a tristeza, a escuridão, a repressão e o terror
FUTURO: a esperança, a liberdade ( Fénix Renascida)
O luar:
A NOITE: a morte, a opressão, a infelicidade
A LUZ: a vida, a liberdade, a felicidade
A LUA: a renovação (e crescimento)
“Felizmente há luar!”:
OPRESSORES: efeito dissuasor
Fogueira: purificadora da sociedade
OPRIMIDOS: efeito libertador (coragem e estímulo para a revolta contra a tirania)
Fogueira: alerta e luz que ilumina o caminho para a liberdade




...



O paralelismo histórico-metafórico:
O Século XIX = metáfora do Século XX
General Gomes Freire de Andrade e General Humberto Delgado





13
25
Sec. XIX / Séc. XX
Épocas de crise - violência do poder e ausência de liberdade.
Épocas em que aparecem manifestações reclamando o direito à justiça e à liberdade.
Épocas que anunciam o nascimento de novos tempos (liberalismo oitocentista e o 25 de Abril de 74)



A apologia dos valores: liberdade e patriotismo
•A «Apoteose trágica»:
O apelo à luta contra o regime opressivo (contra o fascismo)
Outros “hinos” à Resistência (canções revolucionárias…)
A Revolução de Abril
Os ideais: liberdade e patriotismo.














Felizmente há luar.

Século XIX – metáfora do século XX
Felizmente Há Luar! é a metáfora que resulta do efeito de distanciação utilizado por Brecht.
Bertolt Brecht pretendia que o espectador mantivesse uma posição de distanciamento em relação ao que via e ouvia para que, assim, pudesse raciocinar sobre o que lhe era “pedido”. Não havia o propósito de o público se emocionar com os actores que representavam a história; pelo contrário, teria de haver um distanciamento para que reflectissem e analisassem.
Tal como Brecht, Luís de Sttau Monteiro também utiliza o efeito de distanciação para levar o público a agir criticamente, submetendo o passado a um novo olhar, o do presente. O exemplo do passado (século XIX – o regime absolutista, antiliberal, a opressão política, a condenação injusta de Gomes Freire de Andrade...) serve unicamente para conduzir o espectador à compreensão do presente (século XX – o regime autoritário, nacionalista, a censura levada a cabo pelo Comité de Censura, a condenação de muitos militantes antifascistas...).

Sttau Monteiro serve-se da figura do general Gomes Freire de Andrade (1817) e da sua morte em praça pública para chamar a atenção para as injustiças sociais do seu tempo (década de 60), convidando o público a assumir uma posição crítica face ao que vê, na tentativa de fazê-lo agir, como testemunha que é.
Paralelismo entre o século XIX e a realidade do século XX:
▪ ideais de autoritarismo, opressão, ditadura;
▪ tentativas falhadas de revolução no sentido do triunfo das ideias liberais;
▪ aliança entre a Igreja e o Estado;
▪ movimentos de conspiração que reflectem uma tomada de consciência liberal por alguns sectores da sociedade portuguesa;
▪ “agentes secretos” que informam da existência de revoltosos, silenciando-os;
▪ “mártires da liberdade” perseguidos e condenados;
▪ grandes contrastes entre os poderosos e o povo que vive na miséria;
▪ luta do povo, oprimido, explorado, desarmado, exausto e ansioso por mudança.

A intencionalidade da obra
Servindo-se de uma metáfora (século XIX) para atingir o presente (século XX), Felizmente Há Luar! revela uma dupla intenção crítica: à sociedade oitocentista (1817) feita de uma forma clara e bem explícita, e à sociedade da época de 60, feita de uma forma camuflada, através da técnica de distanciação, que ilustra a doutrina do teatro épico, de participação política, preconizado por Brecht. É com ela que Sttau Monteiro obriga o leitor - espectador a analisar e a reflectir sobre a situação política, social, económica e cultural do país, nomeadamente sobre o regime opressivo vigente que se fazia notar através das injustiças, das condenações e das torturas de todos aqueles que não comungavam das ideias salazaristas.
É notória a preocupação do autor em despertar as consciências, levando o espectador a ser um agente de mudança, que reage criticamente e que toma decisões.

domingo, 5 de junho de 2011

lado histórico

A História e a ficção
No romance, entrelaçam-se os dados históricos com os ficcionais e são estes que vão dar maior encanto
à narrativa.
O lado histórico
A história passa-se no século XVIII. Começa por volta de 1711, três anos após o casamento do rei D. João V com D. Maria Ana Josefa de Áustria. Termina em 1739, vinte e dois anos depois, quando se realiza um auto-de-fé em que morre António José da Silva. Os acontecimentos e as personagens são reais, as datas respeitam o que se passou na época.
As referências ligadas ao Convento de Mafra, na realidade correspondem à verdade histórica, por exemplo, a bênção da primeira pedra do Convento, cujas cerimónias tiveram início no dia 17 de Novembro de 1717.
Factos que são considerados históricos por poderem ser comprovados em livros e crónicas da época:
 A indecisão do rei quanto ao número de frades;
 O voto de D. João V que originou a construção do convento;
 A matéria-prima e os artistas que vieram de vários países da Europa e do Brasil;
 O desejo do rei de que a cerimónia da sagração coincidisse com o seu aniversário;
 O trabalho que foi exigido aos operários para que os prazos fossem cumpridos;
 O recrutamento obrigatório feito a nível nacional;
 A origem das pedras de Pêro Pinheiro;
 O casamento dos infantes portugueses e espanhóis;
 O músico italiano Domenico Scarlatti que veio para Portugal para dar lições à infanta D. Maria
Bárbara;
 Os autos-de-fé e as perseguições levadas a cabo pela Inquisição;
 A construção da passarola pelo padre Bartolomeu de Gusmão.

 O lado ficcional
O narrador, consciente de que só as pessoas das classes altas se imortalizam na História, tenta
individualizar o maior número de elementos pertencentes ao povo para que também sejam lembrados e
assim se faça justiça. Assim se explica a referência aos trabalhadores Francisco Marques, Manuel milho,
Álvaro Diogo, João Francisco, José Pequeno, Joaquim Rocha, Julião Mau -Tempo.


Outras personagens ficcionais sao:
Sebastiana Maria de Jesus - mae de Blimunda, degredada para Angola;
Alvaro Diogo e Ines Antonia - irma e cunhado de Baltasar;
 Joao Francisco e Marta Maria - pais de Baltasar;
 Joao Elvas - antigo soldado amigo de Baltasar;
Baltasar e Blimunda - casal amoroso cuja relacao plena de magia nos faz aderir a sua forma de estar na vida. Sao eles tambem os construtores da passarola criando um espaco de evasao do real e ajudando a materializar um sonho.

Ha factos historicos que sao relatados e simultaneamente envolvidos com aspectos ficcionais. Bartolomeu de Gusmao e uma dessas personagens que, apesar de ser historica e ter realmente existido, aparece na obra com aspectos ficcionais que envolvem a construcao da passarola e a sua amizade com Baltasar e Blimunda. A passarola de Bartolomeu de Gusmao entra no plano da ficcao ao ser movida pelas 'vontades' recolhidas por Blimunda.



O NARRADOR. LINGUAGEM E ESTILO
No romance Memorial do Convento o narrador e, geralmente, heterodiegetico, ou seja, trata-se de uma entidade exterior a historia que assume a funcao de relatar os acontecimentos.
O narrador tem um conhecimento absoluto dos eventos e fornece, sobre eles, as informacoes necessarias para que a historia se revista de uma coerencia intrinseca, facultando as relacoes logicas, ao nivel da diegese.
O tipo de focalizacao predominante na obra e omnisciente. Ao longo da obra esta presente um narrador que nao e participante, e omnisciente e a sua presenca torna-se bem visivel estabelecendo uma comunicacao activa com o leitor.
O narrador encontra-se dentro do romance criticando, explicando, sentenciando.
Sao marcas do estilo de Saramago:
- A satira, com recurso a ironia, a linguagem depreciativa e humoristica, a subversao de citacoes biblicas e de proverbios;
- A ruptura com as regras de pontuacao introduzindo um peculiar discurso directo sem utilizar os sinais graficos ao abolir os dois pontos, os travessoes e o ponto de interrogacao e ao utilizar a maiuscula apos uma virgula;
- A presenca do narrador - autor com comentarios, apartes e frases sentenciosas,
- A intertextualidade frequente com Os Lusiadas de Luis de Camoes;
- O uso de formas verbais no presente, no futuro e no gerundio;- Utilizacao do paralelismo de construcao e do polissindeto;
- A enumeracao;
„- A metafora;
„- A ironia;
„- A adjectivacao, por vezes, dupla;
„- Registo de lingua familiar e popular (com sentido ironico e critico ou como forma de traducao do estrato social das personagens);
„- A inclusao de um discurso argumentativo e reflexivo.

A CRITICA
Memorial do Convento e um romance que se apresenta como uma critica cheia de ironia ao que se passava na epoca, inicio do seculo XVIII. E criticada a opulencia do rei e da nobreza, por oposicao a extrema miseria do povo.
A satira esta presente nos casos de adulterio e corrupcao de costumes. Surge a critica a mulher que entre duas igrejas foi encontrar-se com um homem, a uns tantos maridos cucos que sao ingenuos ou que fingem se-lo. (Cap.III, p. 31) Nas classes altas nao escapam a critica os frades que levam as mulheres para dentro das celas e com elas se gozam (Cap. VIII, pp.83/84) nem o proprio rei que considera que as freiras o recebem nas suas camas (Cap. XIII, p.156).
Ha uma constante denuncia dos metodos usados pela Inquisicao e da repressao exercida sobre o povo, mas tambem uma critica a esse povo que dancava em volta das fogueiras onde se queimavam os condenados e que assistia aos autos-de-fe como se fosse um divertimento comparavel as touradas.
Em Mafra, a satira abrange a situacao dos trabalhadores que sao tratados como tijolos. E criticado o rei que manda recrutar os homens validos sem contemplacoes nem humanidade e tambem o principe D. Francisco que se entretem a espingardear os marinheiros so para se divertir e quer seduzir a cunhada para chegar ao trono.

Amor contratual Rei/Rainha e Amor verdadeiro Baltasar/Blimunda

AMOR CONTRATUAL
(REI/ RAINHA)
AMOR VERDADEIRO
(BALTASAR/ BLIMUNDA)
„± Unidos por contrato estabelecido entre casas
regias
„± Casaram-se sem se amar
„± Casados pela Igreja „
„± Casados ha mais de dois anos „
„± Vida opulenta e luxuosa „
„± Vestidos nos encontros amorosos com o trajo
da funcao e do estilo
„± Dormiam em quartos separados, juntavam-se
apenas para o acto sexual
„± Relacao com o fim unico de dar um herdeiro a
coroa
„± Sexualidade encarada como uma obrigacao
regia com o fim de procriar
„± Encontros amorosos no quarto da rainha „
„± Excesso de formalidades e cerimonias „
FRUSTRACAO PESSOAL





AMOR VERDADEIRO
(BALTASAR/ BLIMUNDA)

„± Uniram-se de livre vontade
Amaram-se sem se casar
juntos sem a bençao da igreja
blimunda era virgem
partilha de uma vivencia humilde
despidos nos actos amorosos
dormiam smp juntos e aconchegados
Espontâneas manifestações de um amor
espiritual e carnal
jogos eroticos sem fins procriativos
Encontros amorosos em espaços múltiplos e
variados
Vivência activa e espontânea do amor e da
sexualidade
REALIZAÇAO PESSOAL