segunda-feira, 6 de junho de 2011

Felizmente há luar.

Século XIX – metáfora do século XX
Felizmente Há Luar! é a metáfora que resulta do efeito de distanciação utilizado por Brecht.
Bertolt Brecht pretendia que o espectador mantivesse uma posição de distanciamento em relação ao que via e ouvia para que, assim, pudesse raciocinar sobre o que lhe era “pedido”. Não havia o propósito de o público se emocionar com os actores que representavam a história; pelo contrário, teria de haver um distanciamento para que reflectissem e analisassem.
Tal como Brecht, Luís de Sttau Monteiro também utiliza o efeito de distanciação para levar o público a agir criticamente, submetendo o passado a um novo olhar, o do presente. O exemplo do passado (século XIX – o regime absolutista, antiliberal, a opressão política, a condenação injusta de Gomes Freire de Andrade...) serve unicamente para conduzir o espectador à compreensão do presente (século XX – o regime autoritário, nacionalista, a censura levada a cabo pelo Comité de Censura, a condenação de muitos militantes antifascistas...).

Sttau Monteiro serve-se da figura do general Gomes Freire de Andrade (1817) e da sua morte em praça pública para chamar a atenção para as injustiças sociais do seu tempo (década de 60), convidando o público a assumir uma posição crítica face ao que vê, na tentativa de fazê-lo agir, como testemunha que é.
Paralelismo entre o século XIX e a realidade do século XX:
▪ ideais de autoritarismo, opressão, ditadura;
▪ tentativas falhadas de revolução no sentido do triunfo das ideias liberais;
▪ aliança entre a Igreja e o Estado;
▪ movimentos de conspiração que reflectem uma tomada de consciência liberal por alguns sectores da sociedade portuguesa;
▪ “agentes secretos” que informam da existência de revoltosos, silenciando-os;
▪ “mártires da liberdade” perseguidos e condenados;
▪ grandes contrastes entre os poderosos e o povo que vive na miséria;
▪ luta do povo, oprimido, explorado, desarmado, exausto e ansioso por mudança.

A intencionalidade da obra
Servindo-se de uma metáfora (século XIX) para atingir o presente (século XX), Felizmente Há Luar! revela uma dupla intenção crítica: à sociedade oitocentista (1817) feita de uma forma clara e bem explícita, e à sociedade da época de 60, feita de uma forma camuflada, através da técnica de distanciação, que ilustra a doutrina do teatro épico, de participação política, preconizado por Brecht. É com ela que Sttau Monteiro obriga o leitor - espectador a analisar e a reflectir sobre a situação política, social, económica e cultural do país, nomeadamente sobre o regime opressivo vigente que se fazia notar através das injustiças, das condenações e das torturas de todos aqueles que não comungavam das ideias salazaristas.
É notória a preocupação do autor em despertar as consciências, levando o espectador a ser um agente de mudança, que reage criticamente e que toma decisões.

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