domingo, 5 de junho de 2011

lado histórico

A História e a ficção
No romance, entrelaçam-se os dados históricos com os ficcionais e são estes que vão dar maior encanto
à narrativa.
O lado histórico
A história passa-se no século XVIII. Começa por volta de 1711, três anos após o casamento do rei D. João V com D. Maria Ana Josefa de Áustria. Termina em 1739, vinte e dois anos depois, quando se realiza um auto-de-fé em que morre António José da Silva. Os acontecimentos e as personagens são reais, as datas respeitam o que se passou na época.
As referências ligadas ao Convento de Mafra, na realidade correspondem à verdade histórica, por exemplo, a bênção da primeira pedra do Convento, cujas cerimónias tiveram início no dia 17 de Novembro de 1717.
Factos que são considerados históricos por poderem ser comprovados em livros e crónicas da época:
 A indecisão do rei quanto ao número de frades;
 O voto de D. João V que originou a construção do convento;
 A matéria-prima e os artistas que vieram de vários países da Europa e do Brasil;
 O desejo do rei de que a cerimónia da sagração coincidisse com o seu aniversário;
 O trabalho que foi exigido aos operários para que os prazos fossem cumpridos;
 O recrutamento obrigatório feito a nível nacional;
 A origem das pedras de Pêro Pinheiro;
 O casamento dos infantes portugueses e espanhóis;
 O músico italiano Domenico Scarlatti que veio para Portugal para dar lições à infanta D. Maria
Bárbara;
 Os autos-de-fé e as perseguições levadas a cabo pela Inquisição;
 A construção da passarola pelo padre Bartolomeu de Gusmão.

 O lado ficcional
O narrador, consciente de que só as pessoas das classes altas se imortalizam na História, tenta
individualizar o maior número de elementos pertencentes ao povo para que também sejam lembrados e
assim se faça justiça. Assim se explica a referência aos trabalhadores Francisco Marques, Manuel milho,
Álvaro Diogo, João Francisco, José Pequeno, Joaquim Rocha, Julião Mau -Tempo.


Outras personagens ficcionais sao:
Sebastiana Maria de Jesus - mae de Blimunda, degredada para Angola;
Alvaro Diogo e Ines Antonia - irma e cunhado de Baltasar;
 Joao Francisco e Marta Maria - pais de Baltasar;
 Joao Elvas - antigo soldado amigo de Baltasar;
Baltasar e Blimunda - casal amoroso cuja relacao plena de magia nos faz aderir a sua forma de estar na vida. Sao eles tambem os construtores da passarola criando um espaco de evasao do real e ajudando a materializar um sonho.

Ha factos historicos que sao relatados e simultaneamente envolvidos com aspectos ficcionais. Bartolomeu de Gusmao e uma dessas personagens que, apesar de ser historica e ter realmente existido, aparece na obra com aspectos ficcionais que envolvem a construcao da passarola e a sua amizade com Baltasar e Blimunda. A passarola de Bartolomeu de Gusmao entra no plano da ficcao ao ser movida pelas 'vontades' recolhidas por Blimunda.



O NARRADOR. LINGUAGEM E ESTILO
No romance Memorial do Convento o narrador e, geralmente, heterodiegetico, ou seja, trata-se de uma entidade exterior a historia que assume a funcao de relatar os acontecimentos.
O narrador tem um conhecimento absoluto dos eventos e fornece, sobre eles, as informacoes necessarias para que a historia se revista de uma coerencia intrinseca, facultando as relacoes logicas, ao nivel da diegese.
O tipo de focalizacao predominante na obra e omnisciente. Ao longo da obra esta presente um narrador que nao e participante, e omnisciente e a sua presenca torna-se bem visivel estabelecendo uma comunicacao activa com o leitor.
O narrador encontra-se dentro do romance criticando, explicando, sentenciando.
Sao marcas do estilo de Saramago:
- A satira, com recurso a ironia, a linguagem depreciativa e humoristica, a subversao de citacoes biblicas e de proverbios;
- A ruptura com as regras de pontuacao introduzindo um peculiar discurso directo sem utilizar os sinais graficos ao abolir os dois pontos, os travessoes e o ponto de interrogacao e ao utilizar a maiuscula apos uma virgula;
- A presenca do narrador - autor com comentarios, apartes e frases sentenciosas,
- A intertextualidade frequente com Os Lusiadas de Luis de Camoes;
- O uso de formas verbais no presente, no futuro e no gerundio;- Utilizacao do paralelismo de construcao e do polissindeto;
- A enumeracao;
„- A metafora;
„- A ironia;
„- A adjectivacao, por vezes, dupla;
„- Registo de lingua familiar e popular (com sentido ironico e critico ou como forma de traducao do estrato social das personagens);
„- A inclusao de um discurso argumentativo e reflexivo.

A CRITICA
Memorial do Convento e um romance que se apresenta como uma critica cheia de ironia ao que se passava na epoca, inicio do seculo XVIII. E criticada a opulencia do rei e da nobreza, por oposicao a extrema miseria do povo.
A satira esta presente nos casos de adulterio e corrupcao de costumes. Surge a critica a mulher que entre duas igrejas foi encontrar-se com um homem, a uns tantos maridos cucos que sao ingenuos ou que fingem se-lo. (Cap.III, p. 31) Nas classes altas nao escapam a critica os frades que levam as mulheres para dentro das celas e com elas se gozam (Cap. VIII, pp.83/84) nem o proprio rei que considera que as freiras o recebem nas suas camas (Cap. XIII, p.156).
Ha uma constante denuncia dos metodos usados pela Inquisicao e da repressao exercida sobre o povo, mas tambem uma critica a esse povo que dancava em volta das fogueiras onde se queimavam os condenados e que assistia aos autos-de-fe como se fosse um divertimento comparavel as touradas.
Em Mafra, a satira abrange a situacao dos trabalhadores que sao tratados como tijolos. E criticado o rei que manda recrutar os homens validos sem contemplacoes nem humanidade e tambem o principe D. Francisco que se entretem a espingardear os marinheiros so para se divertir e quer seduzir a cunhada para chegar ao trono.

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