segunda-feira, 23 de maio de 2011

Esquemas sobre: Mutações sócio-políticas e novo modelo económico; Afirmação de novas potências


Fim do modelo Soviético

    1. O fim do modelo soviético
  • Uma nova política

Em Março de 1985, Mikhail Gorbatchev é eleito secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética.
Gorbatchev enceta uma política de diálogo e aproximação ao Ocidente, propondo aos Americanos o reinício das conversações sobre o desarmamento. O líder soviético procura assim criar um clima internacional estável que refreie a corrida ao armamento e permita à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação interna.
Neste contexto, Gorbatchev anunciou o seu programa de reformas designado Perestroika. Este programa previa a alteração do modelo de planificação económica em vigor desde Estaline, [descentralizar a economia], através da concessão de mais autonomia às empresas, criação de um sector privado com maior grau de flexibilidade para responder às solicitações do mercado e uma abertura social e política (glasnost, transparência), de modo a incentivar a participação dos cidadãos e na viabilização da realização de eleições livres e pluripartidárias – abertura democrática.

Perestroika: Reestruturação profunda do funcionamento do modelo soviético empreendida por M. Gorbatchev, a partir de 1985.

  • O colapso do bloco soviético

A contestação ao regime imposto por Moscovo alastrou e endureceu, começando a abalar as estruturas do poder. Gorbatchev passou a olhar as democracias populares como uma “obrigação” pesada, da qual a URSS só ganhava em libertar-se.
No ano de 1989, uma vaga democratizadora varre o Leste: os partidos comunistas perdem o seu lugar de “partido único” e realizam-se as primeiras eleições livres do pós-guerra.
Neste processo, a “cortina de ferro” que separava a Europa levanta-se finalmente: as fronteiras com o Ocidente são abertas e, em 9 de Novembro, cai o Muro de Berlim.
Depois de uma ronda de negociações entre os dois Estados alemães e os quatro países que ainda detinham direitos de ocupação, a Alemanha reunifica-se.
No mês seguinte é anunciado, sem surpresa, o fim do Pacto de Varsóvia e, pouco depois, a dissolução do COMECON.
Nesta altura, a dinâmica política desencadeada pela perestroika tornara-se já incontrolável, conduzindo, também, ao fim da própria URSS. O extenso território das Repúblicas Soviéticas desmembra-se, sacudido por uma explosão de reivindicações nacionalistas e confrontos étnicos.
O processo começa nas Repúblicas Bálticas.
Gorbatchev, que nunca tivera em mente a destruição da URSS ou do socialismo, tenta parar o processo pela força, intervindo militarmente nos Estados Bálticos. Esta situação faz com que o apoio da população se concentre em Boris Ieltsin, que é eleito presidente da República da Rússia, em Junho de ’91.
O novo presidente toma a medida extrema de proibir as actividades do partido comunista.
No Outono de ’91, a maioria das repúblicas da União declara a sua independência. Em 21 de Dezembro, nasce oficialmente a CEI – Comunidade de Estados Independentes, à qual aderem 12 das 15 repúblicas que integravam a União Soviética. Ultrapassado pelos acontecimentos e vencido no seu propósito de manter unido o pais, Mikhail Gorbatchev abandona a presidência da URSS.
1.1.2. Os problemas da transição para a economia de mercado
A transição da economia de direcção central ou planificada para uma economia de mercado implicou profundas perturbações. Por um lado, muitas empresas, desprovidas dos subsídios estatais, foram à falência, provocando o aumento do desemprego. Ao mesmo tempo, a continuada escassez dos bens de consumo, a par da liberalização dos preços, estimulou uma inflação galopante.
A falta de recursos financeiros do Estado não permitiu apoiar os desempregados, enquanto os pensionistas viram as suas pensões degradar-se perante a inflação.
Em contrapartida, a liberalização económica enriqueceu um pequeno grupo que, em pouco tempo, acumulou fortunas fabulosas. A privatização das empresas foi efectuada de um modo tão obscuro que um reduzido nº de empresários pouco escrupulosos se apropriou dessas empresas, adquirindo rapidamente grandes fortunas, enquanto a restante população se tornava cada vez mais pobre.
Os países de Leste viveram também, de forma dolorosa, a transição para a economia de mercado.
Privados dos importantes subsídios que recebiam da União Soviética, sofreram uma brusca regressão económica. De acordo com o Banco Mundial “a pobreza espalhou-se e cresceu a um ritmo mais acelerado do que em qualquer lugar do mundo”. A percentagem de pobres elevou-se de 2 para 21% da população total.
1.2.Os pólos do desenvolvimento económico

Profundamente desigualitário, o mundo actual concentra a maior parte da sua riqueza e da sua capacidade tecnológica em 3 pólos de intenso desenvolvimento: os Estados Unidos, a União Europeia e a zona da Ásia-Pacífico.

1.2.1. A hegemonia dos Estados Unidos
  • A prosperidade económica

Os E.U.A são a 1ª potência económica mundial.
A “livre empresa” continua no centro da filosofia económica do país e o Estado incentiva-a, assegurando-lhe as condições de uma elevada competitividade: a carga fiscal é ligeira, os encargos com a segurança social diminutos e as restrições ao despedimento ou à deslocação da mão-de-obra quase não existem.

  • Os sectores de actividade

Marcadamente pós-industrial, a economia americana apresenta um claro predomínio do sector terciário. Em conformidade, a América é, actualmente, o maior exportador de serviços do Mundo.
Altamente mecanizadas, sabendo rentabilizar os avanços científicos, as unidades agrícolas e pecuárias americanas têm uma elevadíssima produtividade.
Assim, e apesar de algumas dificuldades geradas pela concorrência externa, os E.U.A. mantêm-se os maiores exportadores de produtos agrícolas.
A agricultura americana inclui ainda um vasto conjunto de industrias, desde a produção de sementes e maquinaria agrícola até à embalagem, comercialização e transformação dos seus produtos.
Um verdadeiro complexo agro-industrial.
Responsável por um quarto da produção mundial, a indústria dos E.U.A. sofreu, nos últimos 30 anos, uma reconversão profunda. Os sectores tradicionais, como a siderurgia e o têxtil, entraram em declínio e, com eles, decaiu também a importância económica da zona nordeste.

  • Novos laços comerciais

Numa tentativa de contrariar o predomínio comercial da União Europeia, Clinton procurou estimular as relações económicas com a região do Sudeste Asiático, revitalizando a APEC – Cooperação Económica Ásia-Pacífico, criada em 1989. No mesmo sentido, o presidente impulsionou a criação da NAFTA - Acordo de Comércio Livre da América do Norte, que estipula a livre circulação de capitais e mercadorias entre os EUA, o Canadá e o México.

  • O dinamismo científico-tecnológico

A capacidade de inovar é determinante para o desenvolvimento e prestígio de um país. Liderando a corrida tecnológica, os E.U.A. asseguram a sua supremacia económica e militar.
Os Estados Unidos, são, hoje, a nação que mais gasta em investigação cientifica.
O Estado Federal tem um papel decisivo no fomento da pesquisa privada, quer através do seu financiamento, quer das gigantescas encomendas de sofisticado material militar e paramilitar.
O avanço americano fica também a dever-se à precoce criação de parques tecnológicos – os tecnopólos – que associam universidades prestigiadas, centros de pesquisa e empresas, que trabalham de forma articulada.

  • A hegemonia político-militar

A libertação do Kuwait (conhecida como Guerra do Golfo) iniciou-se em Janeiro de 1991 e exibiu, perante o mundo que a seguiu “em directo” pela televisão, a superioridade militar dos Estados Unidos. O exército iraquiano, o 4º maior do Mundo, com quase um milhão de homens, nada pôde fazer contra as sofisticadas tecnologias de guerra americanas.
Este 1º conflito pós-Guerra Fria inaugurou oficialmente a época da hegemonia mundial americana.
Assim, o poder americano afirmou-se apoiado pelo gigantismo económico e pelo investimento maciço no complexo industrial militar.
Os E.U.A. têm sido considerados os “polícias do Mundo”, devido ao papel preponderante e activo que têm desempenhado na geopolítica do Globo. Assim:
  • Multiplicaram a imposição de sanções económicas como recurso para punir os “infractores”;
  • Reforçaram o papel da OTAN – função de velar pela segurança da Europa, recorrendo, sempre que necessário, à intervenção militar armada.
  • Assumiram um papel militar activo, encabeçando numerosas intervenções armadas pelos motivos mais díspares.   

Permanência de focos de tensão

1.2.2. A União Europeia
A construção europeia foi uma história de altos e baixos. Com períodos de grande entusiasmo e outros de grande cepticismo. Etapa a etapa, o projecto tem, no entanto, progredido, orientando-se por 2 vectores principais: o aprofundamento das relações entre os Estados e o alargamento geográfico da União.
  • A consolidação da Comunidade: do Acto Único à moeda única
O primeiro grande objectivo da CEE foi a união aduaneira, que só se concretizou em 1968, depois de uma cuidada preparação.
Concebida como uma estrutura aberta, a CEE foi criando um conjunto de instituições progressivamente mais elaboradas e actuantes.
Apesar destes avanços, a Comunidade enfrentava, no início dos anos 80, um período de marasmo e descrença nas suas potencialidades e no seu futuro. Só em 1985 a Comunidade reencontra a dinâmica perdida.
Verdadeiramente decidido a relançar o projecto europeu, Delors concentrou-se no aspecto que oferecia, então, maior consenso: o avanço da união económica. Os esforços do novo presidente conduziram, em 1986, à assinatura do Acto Único Europeu, que previa, para 1993, o estabelecimento de um mercado único onde, para além de mercadorias, circulassem livremente pessoas, capitais e serviços.
O Tratado da União Europeia [assinado na cidade holandesa de Maastricht em 1992] que entra em vigor em 1993, ao mesmo tempo que o mercado único, estabelece uma União Europeia (EU) fundada em três pilares: o comunitário, de cariz económico (o mais desenvolvido); o da política externa e da segurança comum (PESC) e o da cooperação nos domínios da justiça e dos assuntos internos.
Maastricht representou um largo passo em frente no caminho da União, quer pelo reforço dos laços políticos, quer, sobretudo, por ter definido o objectivo da adopção de uma moeda única.
A 1 de Janeiro de 1999, onze países, inauguram oficialmente o euro. Na mesma altura começa também a funcionar um Banco Central Europeu que define a política monetária da União.
O euro completou a integração das economias europeias. A CE tornou-se a maior potência comercial do mundo, com um PIB conjunto semelhante ao dos Estados Unidos.
No entanto, no fim do século, a Comunidade Europeia mostrou-se menos pujante que os Estados Unidos.

  • Da Europa dos 9 à Europa dos 25
Em 1981, a Grécia tornou-se membro efectivo da comunidade; a adesão de Portugal e Espanha formaliza-se em 1985, com efeitos a partir de 1986.
A entrada destes três novos membros colocou à CEE o seu primeiro grande desafio, já que se tratava de um grupo de países bastante atrasados relativamente aos restantes membros.
Em 1992, o Conselho Europeu de Lisboa recebeu as candidaturas da Áustria, Finlândia e Suécia.
Os desejos de adesão dos países de Leste eram olhados com apreensão, limitando-se a receber apenas planos de ajuda às económicas em transição.
O princípio da integração das novas democracias é aceite e a Cimeira de Copenhaga define os critérios que devem condicionar as entradas na União: instituições democráticas, respeito pelos Direitos do Homem, economia de mercado viável, aceitação de todos os textos comunitários.
E esta Europa dos 25 perspectiva já o acolhimento da Roménia, da Bulgária e da Turquia.
  • As dificuldades de construção de uma Europa política
O tratado de Maastricht estendeu o entendimento europeu à harmonização de políticas comuns para a justiça e os assuntos internos, a política externa e de segurança, a cidadania europeia.
Cidadania europeia: Criada pelo tratado da União Europeia (Maastricht), a cidadania europeia coexiste com a cidadania nacional tradicional, conferindo aos cidadãos da União, designadamente, o direito de circular e de residir em qualquer território da União, ter protecção diplomática, apresentar petições ao Parlamento Europeu e votar (e ser eleito) em eleições para o Parlamento Europeu e em eleições autárquicas na sua área de residência (mesmo o cidadão emigrado em país “estrangeiro”).

Todos estes assuntos interferem com as políticas nacionais, logo, a polémica instalou-se. Alguns países (Reino Unido, Dinamarca, Suécia) recusaram adoptar a moeda única (euro).
A forma relutante como muitos europeus vêem a União resulta, em parte, da fraca implantação popular do sentido europeísta.
A vontade de que os cidadãos dos estados-membros da União Europeia se identifiquem com o projecto europeu nem sempre tem sido bem-sucedida. O resultado da união política europeia seria um Governo europeu comum e um presidente europeu, porém, este projecto transnacional colide com a figura do Estado-Nação que, embora esteja em crise, ainda é válido para os europeus contemporâneos.

  • Novas perspectivas

As dificuldades de uma união política viram-se substancialmente acrescidas pelos sucessivos alargamentos da Comunidade, que obrigam a conjugar os interesses de países muito diferentes e a rever o funcionamento das instituições, concebidas para um número de membros bem mais reduzido.
O Conselho Europeu de Laeken decidiu convocar, para 2002, uma Convenção para o Futuro da Europa.
Desta convenção resultou um projecto de Constituição Europeia que prevê, entre outras soluções inovadoras, a criação de um ministro dos Negócios Estrangeiros da Europa e o prolongamento do mandato do presidente do Conselho Europeu.


1.2.3. O espaço económico da Ásia-Pacífico
  • Os quatro dragões

O sucesso do Japão serviu de incentivo e de modelo à primeira geração de países industriais do leste asiático. Estes países tinham, á partida, poucos trunfos em que se apoiar.
Em contrapartida, não faltava vontade política, determinação e capacidade de trabalho. Tomando como objectivo o crescimento económico, os Governos procuraram atrair capitais estrangeiros, adoptaram políticas proteccionistas, concederam grandes incentivos à exportação e investiram fortemente no ensino.
A mão-de-obra esforçada e barata permitiu produzir, a preços imbatíveis, têxteis e produtos de consumo corrente, que inundaram os mercados ocidentais.
Os “quatro dragões” constituíram um tremendo sucesso económico.
  • Da concorrência à cooperação

Apesar do seu enorme êxito, os Novos Países Industrializados (NPI) da Ásia confrontavam-se com 2 problemas graves:
  • O primeiro era a excessiva dependência face às economias estrangeiras;
  • O segundo era a intensa rivalidade que os separava, já que concorriam com os mesmos produtos, nas mesmas zonas.

Quando a economia ocidental abrandou, nos anos 70, os países asiáticos voltaram-se para os membros da ASEAN, uma organização económica (nascida em 1967) que aglomerava alguns países do Sudeste Asiático.
Iniciou-se uma cooperação regional estreita: o Japão, a Coreia do Sul e Taiwan iniciaram a exportação de bens manufacturados e tecnologia para os países do Sudeste e começaram a investir fortemente na exploração das suas reservas petrolíferas. Obtiveram, em troca, os produtos primários que pretendiam.
Este intercâmbio permitiu a emergência de uma segunda geração de países industriais na Ásia: [Tailândia, Malásia e a Indonésia] desenvolveram a sua produção, apoiada numa mão-de-obra ainda mais barata, em virtude do seu maior atraso.
A região começou, assim, a crescer de forma mais integrada. O Japão e os “quatro dragões” produzem mercadorias de maior qualidade e preço; a ASEAN dedica-se a bens de consumo, de preço e qualidade inferior.
Os estados do “arco do Pacífico” tornaram-se um pólo económico articulado, com elevado volume de trocas inter-regionais.
O crescimento asiático alterou a balança da economia mundial.
O crescimento teve, no entanto, custos ecológicos e sociais muito altos: a Ásia tornou-se a região mais poluída do Mundo e a sua mão-de-obra permaneceu, maioritariamente, pobre e explorada.

  • A questão de Timor

Em 1974, a “Revolução dos Cravos” agitou também Timor Leste, que se preparou para encarar o futuro sem Portugal. Na ilha, onde não tinham ainda surgido movimentos de libertação, nasceram três partidos políticos:
  • A UDT (União Democrática Timorense), que defendia a união com Portugal num quadro de autonomia;
  • A APODETI (Associação Popular Democrática Timorense), favorável à integração do território da Indonésia;
  • E a FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente), com um programa independentista, ligado aos ideais de esquerda.

O ano de 1975 foi marcado pelo confronto entre os 3 partidos, cuja violência Portugal não conseguiu conter.
Em 7 de Dezembro desse mesmo ano, reagindo contra a tomada do poder pela FRETILIN, o líder indonésio Suharto ordena a invasão do território.
Face ao sucedido Portugal corta relações diplomáticas com Jacarta e pede auxílio às Nações Unidas.
Os factos, porém, contrariavam estas decisões. Os Indonésios, que impuseram o seu poder através do terror e da barbárie anexaram formalmente Timor Leste que, em 1979, se tornou a sua 27ª província.
Refugiados nas montanhas, os guerrilheiros da FRETILIN encabeçaram a resistência contra o invasor, que se viu obrigado a aumentar sucessivamente o contingente militar estacionado no território.
A 12 de Novembro de ’91, as tropas ocupantes abrem fogo sobre uma multidão desarmada que homenageava, no cemitério de Santa Cruz, um independentista assassinado. O massacre fez 271 mortos e várias centenas de feridos.
Em ’92, a prisão do líder da Resistência, Xanana Gusmão, é amplamente noticiada. Com a ajuda dos media, Timor mobiliza a opinião pública mundial.
No fim da década a Indonésia aceita, finalmente, que o povo timorense decida o seu destino através de um referendo.
O referendo, supervisionado por uma missão das Nações Unidas, a UNAMET, de uma inequívoca vitória à independência, mas desencadeou uma escalada de terror por parte das milícias pró-indonésias.
Uma onda de indignação e de solidariedade percorreu então o Mundo e conduziu ao envio de uma força de paz multinacional, patrocionada pelas Nações Unidas. A 20 de Maio de 2002 nasce oficialmente a República Democrática de Timor Leste.

1.2.4. Modernização e abertura da China à economia de mercado
  • A “era Deng”

Seguindo uma política pragmática, Deng dividiu a China em 2 áreas geográficas distintas:
  • O interior, essencialmente rural, permanecia resguardado da influência externa;
  • O litoral abrir-se-ia ao capital estrangeiro, integrando-se plenamente no mercado internacional.

A China camponesa não acompanhará o surto de desenvolvimento do país. O sistema agrário foi, no entanto, profundamente reestruturado. Em cerca de 4 anos as terras foram descolectivizadas e entregues aos camponeses, que puderam comercializar os excedentes, num mercado livre.
Quanto à indústria, sofreu uma modificação radical. A prioridade à indústria pesada foi abandonada em favor dos produtos de consumo e a autarcia em favor da exportação.
Dotadas de uma legislação ultraliberal, as “Zonas Económicas Especiais” foram favoráveis aos negócios. As empresas de todo o Mundo foram convidadas a estabelecer-se nestas áreas.
Desde 1981 que o crescimento económico da China tem sido impressionante.
Recém-chegada ao grupo dos países industrializados da Ásia, a China detém um potencial muito superior ao dos seus parceiros, quer em recursos naturais, quer, sobretudo, em mão-de-obra. Com mais de um milhar de milhão de habitantes, a competitividade do país alicerça-se numa massa inesgotável de trabalhadores mal pagos e sem regalias sociais.
Neste país socialista, as desigualdades entre o litoral e o interior e entre os ricos e os pobres cresceram exponencialmente.

  • A Integração de Hong Kong e Macau

A aproximação da China ao Ocidente facilitou, após lentas negociações, o acordo com a Grã-Bretanha no sentido da transferência da soberania de Hong-Kong, a partir de 1997, enquanto, em relação a Macau, a data acordada com Portugal foi o fim do ano de 1999. Os dois territórios foram integrados na China como regiões administrativas especiais, com um grau de autonomia que lhes permite a manutenção dos seus sistemas político e económico durante um período de 50 anos, segundo o princípio “um país, dois sistemas”.
Hong-Kong tem-se mantido como um importante centro comercial e financeiro, desempenhando um papel activo na atracção de capitais, enquanto Macau continuou a destacar-se como um dinâmico centro de jogo, de turismo e de produção industrial ligeira (têxteis e brinquedos).

1.3. Permanência de focos de tensão em regiões periféricas
1.3.1. A África Subsariana
  • A degradação das condições de existência

“Continente de todos os males”, a África tem sido atormentada pela fome, pelas epidemias, por ódios étnicos, por ditaduras ferozes.
Desde sempre muito débeis, as condições de existência dos Africanos degradaram-se pela combinação de um complexo de factores:
  • O crescimento acelerado da população, que abafa as pequenas melhorias na escolaridade e nos cuidados de saúde;
  • A deterioração do valor dos produtos africanos. O progressivo abaixamento dos preços das m matérias-primas reduziu a entrada de divisas e tornou ainda mais pesada a disparidade entre as importações e as exportações;
  • As enormes dívidas externas dos Estados africanos.
  • A dificuldade em canalizar investimentos externos e a diminuição das ajudas internacionais. Os programas de ajuda diminuíram, em parte sob o pretexto de que os fundos eram desviados para a compra de armas e para as contas particulares de governantes corruptos.

Imagens chocantes de uma fome extrema não cessam de atormentar as consciências dos Ocidentais. O atraso tecnológico, a desertificação de vastas zonas agrícolas e, sobretudo, a guerra são responsáveis pela subnutrição crónica dos Africanos.
A peste chegou sobre a forma da sida, que tem devastado o continente.
À fome e à “peste” junta-se a guerra. Nos anos 90, os conflitos proliferaram e, apesar dos esforços internacionais, mantêm-se acesos ou latentes.


  • A instabilidade política: etnias e Estados

O sentimento nacional não teve, em muitos casos, outras raízes que não fosse a luta contra o domínio estrangeiro. Era uma base muito frágil, que conduziu, desde logo, a tentativas de secessão e a terríveis guerras civis.
O fim da Guerra Fria trouxe ao subcontinente alguma esperança de democratização, já que os soviéticos e americanos deixaram de apoiar os regimes totalitários que consideravam seus aliados. Abandonados à sua sorte, muitos não tardaram a cair.
Em muitas regiões, as grandes dificuldades económicas, as rivalidades étnicas e religiosas, bem como a ânsia de apropriação de riquezas, fizeram aumentar a instabilidade.
A persistência de uma sociedade em que os laços tribais se mantêm vivos e fortes tem facilitado as explosões de violência. Embora o tribalismo concorra para estas explosões de ódio, a verdade é que poucos são os casos em que, por trás, não se escondem ambições políticas ou interesses económicos.

Tribalismo: sistema de organização social caracterizado pela forte coesão entre os membros de um grupo étnico (tribo) que, no caso africano, tem dificultado a formação de identidades nacionais, na medida em que a partilha da África, no século XIX (Conferência de Berlim), e a posterior independência das colónias não tiveram em conta as fronteiras físicas das tribos existentes.

1.3.2. A América Latina
  • A descolagem contida e endividamento externo

Os países latino-americanos procuraram libertar-se da sua extrema dependência face aos produtos manufacturados estrangeiros. Encetaram, então, uma política industrial proteccionista com vista à substituição das importações. Orientado pelo Estado este fomento económico realizou-se com recurso a avultados empréstimos.
Nas décadas seguintes, estes empréstimos, mal geridos, tornaram-se um fardo difícil de suportar.
Esta situação fez-se sentir com mais força nas nações latino-americanas, as mais endividadas do Mundo.
A divida externa reflectiu-se no agudizar da situação económica das populações latino-americanas, pois foi necessário tomar medidas de contenção económica como despedimentos e redução dos subsídios e dos salários.
Face a tão maus resultados, a salvação económica procurou-se numa política neoliberal. Procederam à privatização do sector estatal, sujeitando-o à lei da concorrência e procuraram integrar as suas economias nos fluxos do comércio regional e mundial.
O comércio registou um crescimento notável e as economias revitalizaram-se. No entanto, em 2001, 214 milhões de latino-americanos viviam ainda mergulhados na pobreza.


  • Ditaduras e movimentos de guerrilha. O advento das democracias

Em 1975, só a Colômbia, a Venezuela e a Costa Rica tinham governos eleitos. Os restantes países encontravam-se sob regimes repressivos.
Nas décadas de 60 e 70, o subcontinente conheceu um enfraquecimento dos movimentos de guerrilha. Este fenómeno lançou-a num clima de guerra civil e contribuiu para o atraso da região.
Nos anos 80 registou-se uma inclinação para a democracia. Concomitantemente, as guerrilhas esmoreceram e algumas transformaram-se mesmo em partidos legais que se integraram no sistema político institucional.
Embora firme, o caminho da América Latina rumo à democracia não está ainda isento de dificuldades. As graves clivagens sociais, o aumento do narcotráfico, bem como a corrupção e a violência herdadas do passado, continuam a comprometer a estabilidade política e o futuro económico da região.



1.3.3. O Médio Oriente e os Balcãs
  • Nacionalismos e confrontos político-religiosos no Médio Oriente

A região do Médio Oriente é uma zona instável que tem assumido um protagonismo crescente no panorama mundial. A riqueza petrolífera dos países do Golfo Pérsico e o avanço da luta fundamentalista alteraram profundamente as coordenadas políticas internacionais.

Fundamentalismo: Movimento religioso que defende o regresso das práticas sociais ao definido pelos preceitos dos livros sagrados, renegando os valores e os comportamentos surgidos com a modernidade.

O fundamentalismo emergiu no mundo islâmico como uma afirmação da identidade cultural e de fervor religioso. Revalorizando o ideal de “Guerra Santa”, os fundamentalistas procuram no Corão as regras da vida política e social para além da religiosa. Assim, rejeitam a autoridade laica, transformando a sharia (lei corânica) na base de todo o direito, e contestavam os valores ocidentais que consideram degenerados e malignos.


  • A questão israelo-palestiniana

Apoiados pelos Estados Unidos e pelos judeus de todo o mundo mobilizados pelo sionismo internacional, os israelitas têm demonstrado uma vontade inflexível em construir a pátria que sentem pertencer-lhes.

Sinonismo: Termo derivado de Sião (Palestina) que designa o movimento internacional surgido no século XIX com o objectivo de construir um estado judeu na Palestina e que, após a criação do Estrado de Israel (1948), adquiriu uma conotação negativa em resultado da repressão sobre as populações árabes (os Palestinianos) que permaneceram no novo Estado Judaico.

No campo oposto, os árabes defendem igualmente a terra que há séculos ocupam. A sua determinação em não reconhecer o Estado de Israel desembocou em conflitos repetidos que deixaram patente a superioridade militar judaica. Tal situação induziu os Israelitas a ocuparem os territórios reservados aos Palestinianos onde instalaram numerosos colonatos.
Neste contexto, a revolta palestiniana cresceu e encontrou expressão política na OLP – Organização de Libertação da Palestina.
Na sequência de uma violenta revolta juvenil nos territórios ocupados - a intifada -, os Estados Unidos pressionaram Israel para abrir negociações com a OLP que, conduzidas secretamente desembocam no primeiro acordo iraelo-palestiniano.
Assinado em 1993, em Washington, o acordo estabeleceu o reconhecimento mútuo das duas partes, a renúncia da OLP à luta armada, a constituição de uma Autoridade Nacional Palestiniana e a passagem progressiva do controlo dos territórios ocupados para a administração palestiniana.
Uma escalada de violência tem martirizado a região. Aos atentados suicidas, cada vez mais frequentes, sobre alvos civis israelitas, o exército judaico responde com intervenções destruidoras, nos últimos redutos palestinianos.

  • Nacionalismos e confrontos político-religiosos nos Balcãs

Criada após a 1ª Guerra Mundial, a Jugoslávia correspondeu ao sonho sérvio de unir os “Eslavos do Sul”, mas foi sempre uma entidade artificial que aglutinava diferentes nacionalidades, línguas e religiões.
Em Junho de 1991, a Eslovénia e a Croácia declaram a independência. Recusando a fragmentação do país, o presidente sérvio Slobodan Milosevic desencadeia a guerra que só cessa, no inicio do ano seguinte, após a intervenção da ONU.
Pouco depois, a Bósnia-Herzegovina proclama, por sua vez, a independência e a guerra reacende-se.
Com a Guerra da Bósnia, a Europa revive episódios de violência e atrocidades que julgava ter enterrado no fim da 2ª Guerra Mundial. Em nome da construção de uma “Grande Sérvia” levam-se a cabo operações de “limpeza étnica”.
Finalmente, após muitos impasses e hesitações, uma força da OTAN sob comando americano impôs o fim das hostilidades na Bósnia e conduziu aos Acordos de Dayton (1995), que dividiram o território bósnio em 2 comunidades autónomas, uma sérvia e outra croato-mulçumana.
No fim da década, o pesadelo regressa aos Balcãs, desta feita à região do Kosovo, à qual, em 1989, o Governo sérvio tinha retirado autonomia. Face à revolta eminente, desenrola-se uma nova operação de “limpeza étnica” que a pressão internacional não conseguiu travar. A OTAN decidiu, então, intervir de novo, mesmo sem mandato da ONU.

2.1. Mutações sociopolíticas e o novo modelo económico
2.1.1. O debate do Estado-Nação





















O Estado-Nação surge como um dos principais legados do liberalismo no século XIX.
No século XX, os Estados-Nação registam uma expansão planetária, tornando-se o elemento estruturador da ordem política internacional.
Reconhecem, todavia, os especialistas que a fórmula do Estado-Nação, considerada modelo de organização política mais coerente do ponto de vista jurídico e mais justo, se revela hoje ineficaz, face aos desafios que a nova ordem internacional provoca.
Um conjunto de factores determina a crise do Estado-Nação. São forças desintegradoras a nível local e regional:
  • Imensos conflitos étnicos;
  • Nacionalismos separatistas basco e catalão;
  • Crescente valorização das diferenças e especificidades de grupos e indivíduos;
  • No plano supranacional, os processos de integração económica e política afectam a confiança dos cidadãos nas capacidades dos estado-nação para assumir as suas responsabilidades;
  • Os mecanismos de funcionamento de uma economia globalizada criaram fluxos financeiros a nível global que escaparam ao controlo e à fiscalidade dos estado-nação;
  • Questões transnacionais como a emergência do terrorismo e da criminalidade internacional também contribuíram para a crise dos estado-nação.

Mais do que nunca, mostram-se necessários os esforços concertados de autoridades supra e transnacionais para responder aos complexos desafios do novo mundo que nos rodeia.

2.1.2. A Explosão das realidades étnicas

As identidades agitam-se no mundo com uma intensidade acrescida desde as últimas décadas do séc. XX.
Quase sempre, as tensões étnicas e separatistas são despoletadas pela pobreza e pela marginalidade em que vivem os seus protagonistas, contribuindo para múltiplos conflitos que, desde os anos 80, têm ensanguentado a África, os Balcãs e o Médio Oriente, o Cáucaso, a Ásia Central e Oriental.
Ao contrário dos conflitos interestáticos do período da Guerra Fria, as novas guerras são maioritariamente intra-estáticas.
  • Na região do Cáucaso, as tensões étnicas mostram-se particularmente violentas em território da ex-União Soviética;
  • No Afeganistão, as últimas décadas têm assistido a um crescendo de violência e desentendimento;
  • No Indostão, a Índia vê-se a braços com a etnia sikh, que professa um sincretismo hindu e muçulmano e que se disputa com a maioria hindu;
  • No Sri Lanka, a etnia tamil, de religião hindu, enfrenta os budistas cingaleses;
  • E no Sudeste Asiático, só bem recentemente (em 2002) Timor Leste conseguiu libertar-se da Indonésia, depois de massacres cruéis da sua população.

Na verdade, o genocídio tem sido a marca mais terrível dos conflitos étnicos. Multidões de refugiados cruzam fronteiras, chamando o direito à vida que as vicissitudes da História e os erros dos homens lhes parecem negar. Os Estados mostram-se impotentes para controlar as redes mafiosas e terroristas que se refugiam nos seus territórios e actuam impunemente.

2.1.3. As questões transnacionais: migrações, segurança e ambiente

Dificilmente vivemos imunes aos acontecimentos que nos chegam pelos media.
As questões transnacionais cruzam as fronteiras do Mundo, afectam sociedades distantes e lembram-nos que a Terra e a humanidade, apesar das divisões e da diversidade, são unas. Resolvê-las, minorá-las, ultrapassa o controlo de qualquer Estado-Nação, exigindo a colaboração da ONU, de organizações supranacionais, regionais e não governamentais.

  • Migrações
Em 2000 existiam no Mundo cerca de 150 milhões de pessoas a viver num país que não aquele onde tinham nascido.
Tal como há 100 anos os motivos económicos continuam determinantes nas mais recentes nas migrações.
Mas os motivos políticos também pesam, especialmente se nos lembrarmos dos múltiplos conflitos regionais das últimas décadas.
A este estado de tensão e guerra se devem os cerca de 20 milhões de refugiados que o Mundo contabiliza no início do séc. XXI.
O Sul surge-nos como um local de vastos fluxos migratórios.
Os países com maior número de imigrantes encontram-se, no entanto, no Norte. Sem que possamos falar num aumento de imigrantes relativamente à população total do Globo, registam-se, no entanto, mudanças na sua composição. Há mais mulheres e mais pessoas com maior formação académica e profissional que outrora.
Se, nos locais de partida, os migrantes significam uma fonte apreciável de divisas e de alívio de problemas, já nos países de acolhimento provocam reacções complexas e problemáticas – resulta em tensões e conflitos étnicos. Até em países ocidentais de tradicional acolhimento os imigrantes defrontam-se com inesperadas rejeições. Desde os choques petrolíferos, as dificuldades económicas e a progressão do desemprego, os imigrantes são considerados como concorrentes aos postos de trabalho que restam – o que origina reacções xenófobas.
É neste contexto de hostilidade, inesperada e indesejada em países democráticos, que apreciáveis esforços se encetam para promover a interculturalidade.

Interculturalidade: Perspectiva que se caracteriza pela valorização do contacto entre culturas diferentes no sentido de promover mecanismos de interpretação, de compreensão e de interacção entre elas. Distingue-se do etnocentrismo e do multiculturalismo: o 1º obstaculiza o contacto entre culturas a partir do pressuposto de superioridade de uma cultura dominante e da interpretação da outra à luz dos próprios valores; a 2ª limita-se a constatar a diversidade de culturas, sem se preocupar em promover formas de diálogo entre elas.

  • Segurança
Concertação, vigilância e cooperação.
Na aurora do séc.XXI, tais palavras revelam-se especialmente pertinentes, sobretudo se tivermos em conta os problemas de segurança com que a Humanidade se debate. Desde o 11 de Setembro de 2001 tornou-se impossível ignorar essa ameaça internacional que é o terrorismo.
Embora o terrorismo não constitua um fenómeno novo, o terceiro quartel do séc.XX assistiu a uma escalada terrorista que assumiu proporções inesperadas.
De facto, nas duas últimas décadas, o terrorismo transformou-se numa ameaça à escala planetária. A Europa defronta-se com o terrorismo basco, irlandês, tchetcheno, albanês, bósnio. A América Latina vê-se a braços com os actos terroristas ocorridos na Colômbia. A América do Norte, como já o referimos, conheceu o atentado mais violento de que há memória. A Ásia defronta-se com o terrorismo religioso e político. Nem África escapa.
Quais hidras de sete cabeças, as redes terroristas são difíceis de combater. Ajudam-se mutuamente, trocando entre si informações, técnicas, pessoal, dinheiro e armas.
Associada ao terrorismo, encontra-se essa outra questão vital para a segurança mundial que é a da proliferação de armas e da falta de controlo sobre a sua existência. Já não bastam os países que se recusam a assinar tratados para a limitação do armamento nuclear. Às temidas armas nucleares acrescentam-se outros meios de destruição maciça: as armas químicas e biológicas. Por todo o mundo, espalha-se um mercado negro de armamento, controlado por redes mafiosas, que abastece os grupos terroristas. A moeda de troca é, frequentemente, a droga, fomentando-se, assim, um outro perigoso tráfico para a segurança da Humanidade.

  • Ambiente
O ambientalismo constitui uma questão incontornável do nosso tempo e um desafio a ter em conta no futuro.

Ambientalismo: Perspectiva teórica e conjunto de práticas de um movimento social que procuram chamar a atenção para os efeitos do uso dos recursos (sobreexploração, esgotamento, poluição, destruição dos ecossistemas) no sentido de serem adoptadas medidas de preservação dos sistemas naturais e de sustentabilidade, de tal modo que não se ponha em causa a sobrevivência das gerações vindouras.

A degradação do planeta acelerou-se no último século, devido ao crescimento demográfico e das transformações económicas experimentadas pela Humanidade. A população mundial, que cerca de 1950 atingia os 2,5 mil milhões de seres humanos, mais do que duplicou até ao fim do séc.XX. Ora, mais população significa um acréscimo do consumo de recursos naturais, seja de solos, de água ou de matérias-primas destinadas ao fabrico de bens essenciais…e supérfluos.
A destruição de florestas tropicais é um dos efeitos do crescimento demográfico e da busca de recursos.
A busca desenfreada de terras e a sua exploração intensiva, acompanhada da destruição de ecossistemas, tornam os solos mais vulneráveis à seca e à erosão.
Os atentados à Natureza prosseguem num rol infindável de exemplos. O progresso industrial e tecnológico provoca avultados gastos energéticos e poluição.
Entretanto, misturados com a precipitação, os gases poluentes provocam as chamadas chuvas ácidas, que corroem os bosques e acidificam milhares de lagos, exterminando plantas e peixes.
Desde a década de 70, os cientistas revelam também grande preocupação com a destruição da camada do ozono, essa estreita parte da atmosfera que nos protege contra as radiações ultravioletas.
O “efeito de estufa”, ou aquecimento global, é outra das perigosas ameaças que pairam sobre a Terra. Resulta das elevadas concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, proveniente do crescimento populacional, do desenvolvimento industrial e da proliferação de veículos.
Por causa da camada de vida da Terra ser contínua e interligada e atendendo às múltiplas agressões que sobre ela pairam, os cientistas lançam sistemáticos alertas para o estado de perigo e de catástrofe iminente em que o ecossistema mundial entrou.
Em 1992, a Cimeira da Terra avançou com um conjunto de propostas tendentes à gestão dos recursos da Terra, para que a qualidade de vida das gerações futuras não fique hipotecada. A tal se chamou um “desenvolvimento sustentável”.
E se os países desenvolvidos gastam fortunas com a limpeza de rios e edifícios, o controlo de gases tóxicos, o tratamento de desperdícios e a reciclagem de materiais, tais esforços de preservação do ambiente mostram-se terrivelmente comprometidos, no superpovoado e pobre mundo em desenvolvimento.
De um desenvolvimento económico equilibrado e sustentável espera-se a saúde do planeta e o bem-estar da humanidade.


  • A afirmação do neoliberalismo e globalização da economia
Os choques petrolíferos dos anos 70, a inflação, o abrandamento das actividades económicas e o desemprego, testemunhavam uma poderosa crise.
Denominada de neoliberalismo, uma nova doutrina económica propõe-se reerguer o capitalismo tendo como grandes laboratórios a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.
Atento ao equilíbrio orçamental e à redução da inflação, o neoliberalismo, que defende o respeito pelo livre jogo da oferta e da procura, envereda por medidas de rigor. O Estado neoliberal diminui fortemente a sua intervenção económica e social. Pelo contrário, valoriza a iniciativa privada, incentiva a livre concorrência e a competitividade.
No mundo dos anos 80, caminhava-se a passos largos para a globalização da economia.
A globalização apresenta-se como um fenómeno incontornável. Apoiadas nas modernas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), a concepção, a produção e a comercialização de bens e serviços, bem como os influxos dos imprescindíveis capitais, ultrapassam as fronteiras nacionais e organizam-se à escala planetária.

  • Os mecanismos da globalização
  • A liberalização das trocas
Os Estados recuam nas medidas proteccionistas e enveredam pelo livre-câmbio. Desde finais dos anos 80 que o comércio internacional acusa um crescimento excepcional, mercê de progressos técnicos nos transportes e da criação de mercados comuns.
Em 1995, a Organização Mundial do Comércio entra em vigor. Tendo em vista a liberalização das trocas, incentiva a redução dos direitos alfandegários e propõe-se arbitrar os diferendos comerciais entre os Estados-membros.
Deparamo-nos, consequentemente, na aurora do século XXI, com um fluxo comercial prodigioso, num mundo que quase parece um mercado único.
Às zonas da Europa Ocidental, da Ásia-Pacífico e da America do Norte, a chamada Tríade, cabe o papel de pólos dinamizadores das trocas mundiais.

  • O movimento de capitais
Os movimentos de capitais aceleram-se desde os anos 80. As grandes bolsas de valores, como as de Nova Iorque, Tóquio, Londres e Singapura, mobilizam massas crescentes de acções, em virtude de um aligeiramento das regulamentações que pesavam sobre a circulação de capitais. Desde 1990, os investimentos externos ultrapassam, o montante de mil milhares de milhões de dólares.
  • Um novo conceito de empresa
Possuindo uma tendência para a internacionalização, as grandes empresas sofrem mudanças estruturais e adoptam estratégias planetárias.
Desde os anos 90, aumenta o número de empresas em que a concepção do produto ou do bem a oferecer, as respectivas fases de fabrico e o sector da comercialização se encontram dispersos à escala mundial.
Eis-nos perante as firmas da era da globalização, as chamadas multinacionais ou transnacionais. É essa lógica de rendibilidade das condições locais que conduz, em momentos de crise ou de diminuição de lucros, as multinacionais a abandonarem certos países. Encerram aí as suas fábricas e/ou estabelecimentos comerciais, para os reabrirem noutros locais. A este fenómeno chama-se deslocalização, sendo-lhe atribuída a principal razão do desemprego crónico que grassa no Mundo.


  • A crítica à globalização
O crescimento económico proporcionado pelo neoliberalismo e pela globalização suscita acesos debates em finais dos anos 90.
Os seus defensores lembram que as medidas tomadas permitiram resolver a gravíssima crise inflacionista dos anos 70, ao mesmo tempo que apreciáveis franjas da Humanidade acederam a uma profusão de bens e serviços.
Já os detractores da globalização invocam o fosso crescente entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, frisando que, nas próprias sociedades desenvolvidas, existem casos gritantes de pobreza e exclusão. E apontam o dedo ao desemprego, verdadeiramente incontrolável.
A alter-globalização contrapõe-lhe o projecto de um desenvolvimento equilibrado, que elimine os fossos entre homens e povos, respeite as diferenças, promova a paz e preserve o planeta. Porque “ um outro mundo é possível”.

Resumo Sapo

O fim do sistema internacional da Guerra-fria e a persistência da dicotomia Norte-Sul
O fim do modelo soviético. No curto espaço de tempo que vai de 1985 a1991, a história mundial sofreu modificações profundas: a guerra-fria terminou de forma inesperada, as democracias populares europeia aboliram o comunismo, as duas Alemanhas fundiram-se num só estado e a URSS desintegrou-se, deixando os EUA sem concorrente ao lugar de superpotência mundial.
Uma nova política. Gorbatchev encara de frente a deterioração que o sistema vinha a sofrer desde os tempos de Brejnev. Enquanto o nível de vida da população baixava, o atraso económico e tecnológico, relativamente aos EUA, crescia a olhos vistos, e só com muitas dificuldades o país conseguia suportar os pesados encargos decorrentes da sua vasta influência no mundo. Neste contexto, Gorbatchev enceta uma politica de diálogo e aproximação do ocidente, propondo aos americanos o reinício das conversações sobre o desarmamento. O líder soviético procura, assim, criar um clima internacional estável que refreie a corrida ao armamento e permitia à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação interna. Decidido a ganhar o apoio popular para o seu arrojado plano de renovação económica, ao qual chamou Perestroika (reestruturação), Gorbatchev inicia, em simultâneo, uma ampla abertura política, conhecida como Glasnost(transparência). A Perestroika propõe-se descentralizar a economia, estabelecendo a gestão autónoma das empresas, paralelamente, incentivava-se a formação de um sector privado parcial. Enquanto isso, a Glasnost apela à denúncia da corrupção, à crítica e à participação efectiva dos cidadãos na vida política. Em Março de 1989, esta abertura democrática reforça-se com as primeiras eleições verdadeiramente pluralistas e livres na União Soviética.
Pese embora estas alterações, persiste a dicotomia Norte-Sul. Os países do hemisfério Sul continuam muito desfasados do desenvolvimento que caracteriza os países do Norte. Algumas organizações internacionais de solidariedade tentam continuar dar um contributo para amenizar o sofrimento de muitos seres humanos privados dos seus direitos essenciais. A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), fundada em 1946, e a UNICEF (Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas), constituída em 1945, são duas das mais activas organizações que têm uma intervenção permanente nos pontos do Mundo menos desenvolvidos.
 
A Europa de Leste – a desagregação do bloco soviético
Há muito reprimida, a contestação ao regime imposto por Moscovo alastrou e endureceu, começando a abalar as estruturas do poder. A linha dura dos partidos comunistas europeus não contou agora com a intervenção militar russa, para “normalizar” a situação. A doutrina da “soberania limitada” foi, assim, posta de lado, e os antigos países-satélites da URSS puderam, finalmente, escolher o seu regime político.
No ano de 1989, uma vaga de democratizadora varre o Leste. Neste processo, a “cortina de ferro”, que, há quatro décadas, separava a Europa, levanta-se finalmente: as fronteiras do Ocidente são abertas e, em 9 de Novembro, perante um mundo estarrecido, cai o Muro de Berlim. Depois de uma ronda de negociações entre os dois estados alemães e os quatro países que ainda detinham direitos de ocupação, a Alemanha reunifica-se. Em Novembro de 1990 é anunciado, o fim do Pacto de Varsóvia e, pouco depois, a dissolução do COMECON. Nesta altura, a dinâmica política desencadeada pela Perestroika torna-se já incontrolável, conduzindo, ao fim da própria URSS. Mosaico de povos, culturas e religiões que só uma mão férrea tinha conseguido manter unidos, o extenso território das Repúblicas Soviéticas desmembra-se. O processo começa nas Repúblicas Bálticas, anexadas por Estaline. Eleito, como independente, presidente da República da Rússia, em Junho de 1991, Ieltsin reforça o seu prestígio em Agosto ao encabeçar a resistência a um golpe de estado dos saudosistas do partido, que pretendiam retomar o poder e parar as reformas em curso. Pouco depois, no rescaldo do golpe, o novo presidente toma a medida extrema de proibir actividades do partido comunista. No Outono de1991, a maioria das repúblicas declara a sua independência. Em 21 de Dezembro, nasce oficialmente a CEI (Comunidade dos Estados Independentes), à qual aderem 12 das 15 Repúblicas que integravam a união soviética.
Os problemas de transição para a economia de mercado. Perestroika tinha prometido aos soviéticos uma melhoria acentuada e rápida do nível de vida. Mas, ao contrário do previsto, a reconversão económica foi um fracasso e a economia deteriorou-se rapidamente. O fim da economia planificada significou o fim dos subsídios estatais às empresas. Assim, muitas unidades desapareceram e outras extinguiram numerosos postos de trabalho, considerados excedentários.
Simultaneamente, o descontrolo económico e a liberalização dos preços desencadearam uma inflação galopante que a subida de salários não acompanhou. Em contrapartida, a liberalização económica enriqueceu um pequeno grupo que, em pouco tempo, acumulou fortunas fabulosas. Os países de Leste viveram, também, de forma dolorosa, a transição para a economia de mercado. Privados dos chorudos subsídios que recebiam da União Soviética, os antigos satélites da URSS sofreram uma brusca regressão económica. Com excepção da RDA, que recebeu vultuosos subsídios da Alemanha Ocidental. Tal como na Rússia, o caos económico instalou-se e as desigualdades agravaram-se. A percentagem de pobres elevou-se, em apenas uma década (1988-1998), de 2 para 21% da população total.
 
Os pólos de desenvolvimento económico: Os EUA – caracterização
Profundamente desigualitário, o mundo actual concentra a maior parte da sua riqueza e da sua capacidade tecnológica em três pólos de intenso desenvolvimento: os Estados Unidos, a União Europeia e a zona da Ásia-Pacífico. A este poder económico concentrado, põe-se a hegemonia político-militar de um único país: os Estados Unidos.
Prosperidade económica. Os EUA são o quarto maior país do mundo e o terceiro mais populoso. Um PNB de mais de 10.2 biliões de dólares faz deles a primeira potência económica mundial. Terra das oportunidades desde o seu nascimento, a América do Norte glorifica, ainda hoje, o espírito de iniciativa individual e a imagem do multimilionário bem sucedido. A “livre empresa” contínua no centro da filosofia económica do país e o estado incentiva-a, assegurando-lhe as condições de uma elevada competitividade. Pátria de gigantescas multinacionais, os EUA vivem também de uma densa rede de pequenas empresas.
Os sectores de actividade.Marcadamente pós-industrial, a economia americana apresenta um claro predomínio do sector terciário. A América é, hoje, o maior exportador de serviços do mundo, sobretudo, na área de seguros, transportes, restauração, cinema e música. Altamente mecanizadas, as unidades agrícolas e pecuárias americanas têm uma elevadíssima produtividade. Assim, e apesar de algumas dificuldades geradas pela concorrência, os EUA mantêm-se como maior exportador de produtos agrícolas. Pelo seu dinamismo, a agricultura americana alimenta ainda um conjunto de vastas indústrias. Este verdadeiro complexo agro-industrial envolve mais de 20 milhões de trabalhadores e representa cerca de 18% do PIB americano. Responsável por um quarto da produção mundial, a indústria dos EUA sofreu, nos últimos 30 anos, uma reconversão profunda. Os sectores tradicionais, entraram em declínio e, com eles, decaiu também a importância económica da zona nordeste.
Novos laços comerciais. O partido que os Estados Unidos retiram da sua implantação na América e na área do Pacífico reforçou-se durante a presidência de Bill Clinton. Numa tentativa de contrariar o predomínio comercial da UE, Clinton procurou estimular as relações económicas com a região do Sudeste Asiático, revitalizando a APEC. No mesmo sentido, o presidente impulsionou a criação da NAFTA, que estipula a livre circulação de capitais e mercadorias (não de pessoas) entre os EUA, Canadá e México.
Dinamismo científico-tecnológico. Liderando a corrida tecnológica, os EUA asseguram na viragem para o séc. XXI, a sua supremacia económica e militar. Os EUA são, hoje, a nação que mais gasta em investigação científica. Para além dos centros que dele directamente dependem, o Estado Federal tem um papel decisivo no fomento da pesquisa privada. O avanço americano fica, também, a dever-se à criação precoce de parques tecnológicos – os tecnopólos –, que associam universidades prestigiadas, centros de pesquisa e empresas, que trabalham de forma articulada.
Hegemonia político-militar. No início dos anos 90, o fim da guerra-fria trouxe ao mundo a esperança de uma época nova. Dessa esperança se fez eco o presidente dos EUA, George Bush (pai), ao defender a criação de uma “nova ordem mundial”. É invocando esta ordem nova, que se pretende criar, que as Nações Unidas aprovam uma operação militar multinacional com o fim de repor a soberania do Kuwait, invadido, pelo vizinho Iraque. A libertação do Kuwait (conhecida como guerra do Golfo) iniciou-se em Janeiro de 1991 e exibiu, perante o mundo a superioridade militar dos Estados Unidos. Este primeiro conflito pós guerra-fria inaugurou oficialmente a época da hegemonia mundial americana. O poderio americano afirmou-se inequivocamente, apoiado pelo gigantismo económico e pelo investimento maciço no complexo industrial militar. É a única superpotência da última década, em virtude do papel preponderante e activo que tem desempenhado na geopolítica do globo. Assim, os EUA multiplicaram a imposição de sanções económicas, reforçaram o papel da NATO e assumiram um papel militar activo que serviu de suporte à polémica invasão do Iraque, que, em 2003, derrubou o regime de Sadam Hussein.
 
Os pólos de desenvolvimento económico: A União Europeia
Unir um velho continente, formado por tantas nações orgulhosas e independentes, parece um projecto assaz ambicioso. Etapa a etapa, no entanto, o projecto tem progredido.
Consolidação da comunidade: do acto único à moeda única. Embora o tratado de Roma abrisse perspectivas para uma completa integração económica e, até, de uma futura união política, o 1.º grande objectivo da CEE foi a união aduaneira. Os estados membros acordaram o estabelecimento de uma política agrícola comum, de acções concertadas de combate ao desemprego, de ajudas às regiões menos favorecidas, de um sistema monetário europeu, entre outras medidas. Apesar destes avanços, a comunidade enfrentava no início dos anos 80, um período de marasmo e descrença nas suas potencialidades e no seu futuro. Os esforços do novo presidente conduziram, em 1986 à assinatura do Acto Único Europeu, que previa, para 1993, o estabelecimento do mercado único onde, para além de mercadorias, circulassem, livremente, pessoas, capitais e serviços. Em 1990, começam as negociações com vista ao aumento das competências da comunidade.
Estas negociações desembocam no célebre tratado da união europeia, assinado na cidade holandesa de Maastricht. O tratado, que entra em vigor em 1993, ao mesmo tempo que o mercado único, estabelece uma união europeia fundada em três pilares: o comunitário, de cariz económico e de longe, o mais desenvolvido; o da politica externa e da segurança comum; e o da cooperação nos domínios da justiça e dos assuntos internos.
Maastricht representou um largo passo em frente no caminho da união, quer pelo reforço dos laços políticos, quer, sobretudo, por ter definido o objectivo da adopção de uma moeda única, de acordo com um calendário rigoroso e predeterminado. A 1 de Janeiro de 1999, 11 países, aos quais viera juntar-se a Grécia, inauguram oficialmente o euro, que entra, então nos mercados de capitais. O euro completou a integração das economias europeias. A CEE tornou-se a maior potência comercial do mundo, com um PIB conjunto semelhante ao dos EUA; o seu mercado interno, com mais de 355 milhões de consumidores (Europa dos 15), apresenta um elevado nível de consumo e uma mão-de-obra muito qualificada; possui, também, uma densa rede de transportes e comunicações.
Da Europa dos 9 à Europa dos 25. Em 1981, a Grécia torna-se membro efectivo da comunidade; a adesão dos dois países ibéricos formaliza-se em 1985, com efeitos a partir do ano seguinte. A entrada destes três novos membros colocou à CEE o seu primeiro grande desafio, já que se trava de um grupo de países bastante atrasados relativamente aos restantes membros. Em 1992, o Conselho Europeu de Lisboa recebeu, com agrado, as candidaturas da Áustria, Finlândia, Suécia e Noruega, países cuja solidez económica contribuiria para o reforço da comunidade. A Europa passa a funcionar a 15. Entretanto, os desejos de adesão dos países de Leste eram olhados com apreensão, limitando-se a comunidade, no início, a implementar planos de ajuda às economias em transição.
Em 1 de Maio de 2004, a Europa enfrentou o desafio imenso, impensável, de unir o Leste e o Oeste, o Norte e o Sul. Em 2007 entram a Roménia e Bulgária.
As dificuldades de construção de uma Europa política. Nos últimos 50 anos, os europeus têm-se dividido no que toca ao futuro do seu continente. O eurocepticismo e a resistência a todas as medidas que impliquem transferências de soberania são comuns a vários estados-membros. O Tratado de Maastricht para além de ter introduzido o poderoso elemento de coesão que é a moeda única, criou, também, a cidadania europeia e alargou a acção comunitária a questões como o direito de asilo, a política de imigração e a cooperação de assuntos internos. A forma relutante como muitos europeus vêem a união, resulta em parte, da fraca implantação popular do sentimento europeísta.
Novas perspectivas. As dificuldades de uma união política viram-se substancialmente acrescidas pelos sucessivos alargamentos da comunidade, que obrigam a conjugar os interesses de países muito diferentes e a rever o funcionamento das instituições.
 
Os pólos de desenvolvimento económico: O Japão
O designado “milagre japonês” beneficiou de uma conjuntura favorável. As ajudas financeiras e técnicas, por parte dos EUA, permitiram uma rápida reconstrução económica do Japão. Apesar disto, os japoneses também criaram condições necessárias à sua prosperidade: um sistema político estável permitiu a actuação concertada entre o Governo e os grandes grupos económicos. O Estado interveio activamente na regulação do investimento, na concessão de créditos, na protecção das empresas e o mercado nacional. Também canalizou a maior parte dos investimentos públicos para o sector produtivo e absteve-se em matéria de legislação social.
A mentalidade japonesa foi também um importante factor de crescimento. Dinâmicos e austeros, completamente devotados à causa da reconstrução nacional e ao seu trabalho em particular, empresários e trabalhadores cooperaram estreitamente na realização de objectivos comuns.
Munido de mão-de-obra abundante e barata e de um sistema de ensino abrangente mas altamente competitivo, o Japão lançou-se à tarefa de transformar na primeira sociedade de consumo da Ásia.
O primeiro grande surto de crescimento ocorreu entre 1955 e 1961 quando a produção industrial praticamente triplicou. Os sectores que adquirem maior dinamismo são os da indústria pesada e dos bens de consumo duradouros. O comércio externo acompanha também esta expansão.
O segundo surto foi entre 1961 e 1971, período durante o qual a produção industrial duplicou e criaram-se 2,3 milhões de postos de trabalho. Este crescimento também assenta em novos sectores, como a produção de automóveis, e televisões.
Tudo isto fez do Japão a terceira maior potência do mundo.
 
O espaço económico da Ásia - Pacífico
Nos anos 90 tornou-se um pólo de desenvolvimento intenso, capaz de concorrer com os EUA e a UE. A economia desta região desenvolveu-se em três fases consecutivas: em 1.º lugar emergiu o Japão; depois os quatro dragões (ou tigres) asiáticos: Hong Kong, Coreia do sul, Singapura e Taiwan; os países do sudoeste, Tailândia, Malásia e Indonésia, seguidos pela República Popular da China.
Os quatro dragões. O sucesso do Japão serviu de incentivo e de modelo à 1.ª geração de países industriais do Leste asiático. Não faltava vontade política, determinação e capacidade de trabalho. Tomando como objectivo o crescimento económico, os governos procuraram atrair capitais estrangeiros. A industrialização asiática explorou mão-de-obra abundante e disciplinada, capaz de trabalhar longas horas diárias por muito pouco dinheiro. Esta mão-de-obra esforçada e barata permitiu produzir, a preços imbatíveis, têxteis e produtos de consumo corrente, que inundaram os mercados ocidentais. Os “quatro dragões” constituíram um tremendo sucesso económico.
Da concorrência à cooperação. Apesar do seu enorme êxito, os novos países industrializados (NPI) da Ásia confrontavam-se com dois problemas graves: o 1.º era a excessiva dependência face às economias estrangeiras; o 2.º era a intensa rivalidade que os separava. Quando a economia ocidental abrandou, nos anos 70, os países asiáticos foram induzidos a procurar mercados e fornecedores mais próximos da sua área geográfica. Voltaram-se então, para os membros da ASEAN, organização económica que aglutinava alguns países do Sudeste Asiático. Nascida em 1967, a ASEAN, agrupava a Tailândia, a Malásia, a Indonésia e Filipinas, países cujas economias se encaixavam perfeitamente na do Japão e nas das quatro novas potências: eram ricos em matérias-primas, nos recursos energéticos e nos bens alimentares de que os cinco necessitavam. Agarrando a oportunidade, as duas partes deram início a uma cooperação regional estreita: o Japão, a Coreia do Sul e o Taiwan iniciaram a exportação de bens manufacturados e tecnologia para os países do Sudeste e, obtiveram, em troca, os produtos primários que pretendiam. Este intercâmbio permitiu a emergência de uma 2.ª geração de países industriais na Ásia: a Tailândia, a Malásia e a Indonésia, desenvolveram a sua produção. A região começou, assim, a crescer de forma mais integrada. O Japão e os “quatro dragões” produzem mercadorias de maior qualidade e preço; a ASEAN dedica-se a bens de consumo, de preço e qualidade inferior. Os estados do “arco do pacífico” tornaram-se, um pólo económico articulado, com elevado volume de trocas inter-regionais. O crescimento asiático alterou a balança da economia mundial, ate aí concentrada na tríade EUA, Europa e Japão. Em 1997, Hong kong e Singapura colocaram-se entre os 10 países mais ricos do mundo. O crescimento teve, no entanto, custos ecológicos e sociais muito altos, a Ásia tornou-se a região mais poluída do mundo e a sua mão-de-obra permaneceu, pobre e explorada.
 
A China – caracterização
Seguindo uma política pragmática, Deng dividiu a China em duas áreas geográficas distintas: o interior, essencialmente rural, permanecia resguardado da influência externa; o litoral abrir-se-ia ao capital estrangeiro, integrando-se plenamente no mercado internacional.
A China camponesa não acompanhará o surto de desenvolvimento do país. O sistema agrário foi, no entanto, profundamente reestruturado. Em cerca de 4 anos as terras foram descolectivizadas e entregues aos camponeses, que puderam comercializar os excedentes, num mercado livre.
Quanto à indústria, sofreu uma modificação radical. A prioridade à indústria pesada foi abandonada em favor dos produtos de consumo e a autarcia em favor da exportação.
Dotadas de uma legislação ultraliberal, as “Zonas Económicas Especiais” foram favoráveis aos negócios. As empresas de todo o Mundo foram convidadas a estabelecer-se nestas áreas.
Desde 1981 que o crescimento económico da China tem sido impressionante.
Recém-chegada ao grupo dos países industrializados da Ásia, a China detém um potencial muito superior ao dos seus parceiros, quer em recursos naturais, quer, sobretudo, em mão-de-obra. Com mais de um milhar de milhão de habitantes, a competitividade do país alicerça-se numa massa inesgotável de trabalhadores mal pagos e sem regalias sociais.
Neste país socialista, as desigualdades entre o litoral e o interior e entre os ricos e os pobres cresceram exponencialmente.
A aproximação da China ao Ocidente facilitou, após lentas negociações, o acordo com a Grã-Bretanha e Portugal no sentido da transferência da soberania de Hong-Kong e de Macau, a partir de 1997 e de 1999, respectivamente.
 
A questão de Timor
A ilha de Timor era desde o séc. XVI, um território administrado pelos portugueses. Em 1974 a “revolução dos cravos” agitou também Timor-leste, que se preparou para encarar o futuro sem Portugal. Na ilha, nasceram três partidos políticos: UDT, APODETI e FRETILIN. O ano de 1975 foi marcado pelo confronto entre os três países, cuja violência Portugal não conseguiu conter. o nosso país acabou por se retirar de Timor, sem reconhecer, a legitimidade de um novo governo. Em 7 de Dezembro de 1975, reagindo contra a tomada de poder pela FRETILIN, o líder indonésio Suharto ordena, a invasão do território. Assim, Portugal corta relações diplomáticas com Jacarta e apela às Nações Unidas, que condenam a ocupação e continuam a considerar Timor um território não autónomo. Os factos, porém, contrariavam estas decisões. Os indonésios anexaram formalmente Timor, que, em 1976, se tornou a sua 27.ª província. Apesar de consumada, a anexação de Timor permaneceu ilegítima. Refugiados nas montanhas, os guerrilheiros da FRETILIN encabeçaram a resistência contra o invasor. Quis o acaso que uma das muitas acções de repressão sobre os timorenses fosse filmada: as tropas ocupantes abrem fogo sobre uma multidão desarmada que homenageava, no cemitério de santa cruz, um independentista assassinado. O massacre faz 271 mortos. As imagens, correram o mundo e despertam-no para a questão timorense. Com a ajuda dos media, Timor mobiliza a opinião pública mundial e, em 1996, a causa ganha ainda mais força com a atribuição do prémio Nobel da Paz ao bispo de Díli. No fim da década, a Indonésia aceita, que o povo timorense decida o seu destino através de um referendo. Entretanto, dá o seu apoio à organização de milícias armadas que iniciam acções de violência e de intimidação no território. O referendo deu uma inequívoca vitória à independência, mas desencadeou uma escalada de terror por parte das milícias pró-indonésias. Uma onda de indignação e de solidariedade percorreu então o mundo e conduziu ao envio de uma força de paz multinacional, patrocinada pelas Nações Unidas. Sob a protecção dessa força, o território encaminhou-se, para a independência.
 
A permanência de focos de tensão em regiões periféricas. A África e a América Latina
“Continente de todos os males”, a África tem sido atormentada pela fome, pelas epidemias, por ódios étnicos e por ditaduras ferozes.
Desde sempre muito débeis, as condições de existência dos africanos degradaram-se pela combinação de um complexo número de factores: crescimento acelerado da população, que abafa as pequenas melhorias na escolaridade e nos cuidados de saúde; deterioração do valor dos produtos africanos (um progressivo abaixamento dos preços das matérias-primas reduziu a entrada de divisas e tornou ainda mais pesada a disparidade entre as importações e as exportações); enormes dívidas externas dos Estados africanos; e dificuldade em canalizar investimentos externos e a diminuição das ajudas internacionais (os programas de ajuda diminuíram, em parte sob o pretexto de que os fundos eram desviados para a compra de armas e para as contas particulares de governantes corruptos).
Imagens chocantes de uma fome extrema não cessam de atormentar as consciências dos Ocidentais. O atraso tecnológico, a desertificação de vastas zonas agrícolas e, sobretudo, a guerra são responsáveis pela subnutrição crónica dos africanos.
A peste chegou sobre a forma da Sida, que tem devastado o continente. À fome e à “peste” junta-se a guerra. Nos anos 90, os conflitos proliferaram e, apesar dos esforços internacionais, mantêm-se acesos ou latentes.
Os países latino-americanos procuraram libertar-se da sua extrema dependência face aos produtos manufacturados estrangeiros. Encetaram, então, uma política industrial proteccionista com vista à substituição das importações. Orientado pelo Estado este fomento económico realizou-se com recurso a avultados empréstimos.
A dívida externa reflectiu-se no agudizar da situação económica das populações latino-americanas, pois foi necessário tomar medidas de contenção económica como despedimentos e redução dos subsídios e dos salários.
Face a tão maus resultados, a salvação económica procurou-se numa política neoliberal. Procederam à privatização do sector estatal, sujeitando-o à lei da concorrência e procuraram integrar as suas economias nos fluxos do comércio regional e mundial. O comércio registou um crescimento notável e as economias revitalizaram-se. No entanto, em 2001, 214 milhões de latino-americanos viviam ainda mergulhados na pobreza.
Em 1975, só a Colômbia, a Venezuela e a Costa Rica tinham governos eleitos. Os restantes países encontravam-se sob regimes repressivos.
Na década de 1980 registou-se uma inclinação para a democracia. As guerrilhas esmoreceram e algumas transformaram-se mesmo em partidos legais que se integraram no sistema político institucional.
Embora firme, o caminho da América Latina rumo à democracia não está ainda isento de dificuldades. As graves clivagens sociais, o aumento do narcotráfico, bem como a corrupção e a violência herdadas do passado, continuam a comprometer a estabilidade política e o futuro económico da região.
 
A permanência de focos de tensão em regiões periféricas. A Ásia e a Europa
A região do Médio Oriente é uma zona instável que tem assumido um protagonismo crescente no panorama mundial. A riqueza petrolífera dos países do Golfo Pérsico e o avanço da luta fundamentalista alteraram profundamente as coordenadas políticas internacionais.
O fundamentalismo emergiu no mundo islâmico como uma afirmação da identidade cultural e de fervor religioso. Revalorizando o ideal de “Guerra Santa”, os fundamentalistas procuram no Corão as regras da vida política e social para além da religiosa. Assim, rejeitam a autoridade laica, transformando a sharia (lei corânica) na base de todo o direito, e contestavam os valores ocidentais que consideram degenerados e malignos.
Apoiados pelos Estados Unidos e pelos judeus de todo o mundo, mobilizados pelo sionismo internacional, os israelitas têm demonstrado uma vontade inflexível em construir a pátria que sentem pertencer-lhes.
No campo oposto, os árabes defendem igualmente a terra que há séculos ocupam. A sua determinação em não reconhecer o Estado de Israel desembocou em conflitos repetidos que deixaram patente a superioridade militar judaica. Tal situação induziu os Israelitas a ocuparem os territórios reservados aos Palestinianos onde instalaram numerosos colonatos.
Uma escalada de violência tem martirizado a região. Aos atentados suicidas, cada vez mais frequentes, sobre alvos civis israelitas, o exército judaico responde com intervenções destruidoras, nos últimos redutos palestinianos.
Criada após a 1.ª Guerra Mundial, a Jugoslávia correspondeu ao sonho sérvio de unir os “Eslavos do Sul”, mas foi sempre uma entidade artificial que aglutinava diferentes nacionalidades, línguas e religiões.
Em Junho de 1991, a Eslovénia e a Croácia declaram a independência. Recusando a fragmentação do país, o presidente sérvio Slobodan Milosevic desencadeia a guerra que só cessa, no início do ano seguinte, após a intervenção da ONU.
Pouco depois, a Bósnia-Herzegovina proclama, por sua vez, a independência e a guerra reacende-se. Com a Guerra da Bósnia, a Europa revive episódios de violência e atrocidades que julgava ter enterrado no fim da 2.ª Guerra Mundial. Em nome da construção de uma “Grande Sérvia” levam-se a cabo operações de “limpeza étnica”.
Finalmente, após muitos impasses e hesitações, uma força da OTAN sob comando americano impôs o fim das hostilidades na Bósnia e conduziu aos Acordos de Dayton (1995), que dividiram o território bósnio em 2 comunidades autónomas, uma sérvia e outra croato-muçulmana.
No fim da década, o pesadelo regressa aos Balcãs, desta feita à região do Kosovo, à qual, em 1989, o Governo sérvio tinha retirado autonomia. Face à revolta eminente, desenrola-se uma nova operação de “limpeza étnica” que a pressão internacional não conseguiu travar. A OTAN decidiu, então, intervir de novo, mesmo sem mandato da ONU.
 
A viragem para uma outra era. O debate do Estado-Nação
O Estado-Nação surge como um dos principais legados do liberalismo no séc. XIX. No séc. XX, os Estados-Nação registam uma expansão planetária, tornando-se o elemento estruturador da ordem política internacional.
Reconhecem, todavia, os especialistas que a fórmula do Estado-Nação, considerada modelo de organização política mais coerente do ponto de vista jurídico e mais justo, se revela hoje ineficaz, face aos desafios que a nova ordem internacional provoca.
Um conjunto de factores determina a crise do Estado-Nação. São forças desintegradoras a nível local e regional: imensos conflitos étnicos; nacionalismos separatistas basco e catalão; crescente valorização das diferenças e especificidades de grupos e indivíduos; no plano supranacional, os processos de integração económica e política afectam a confiança dos cidadãos nas capacidades do Estado-Nação para assumir as suas responsabilidades; Os mecanismos de funcionamento de uma economia globalizada criaram fluxos financeiros a nível global que escaparam ao controlo e à fiscalidade do Estado-Nação; Questões transnacionais como a emergência do terrorismo e da criminalidade internacional também contribuíram para a crise dos Estado-Nação.
Mais do que nunca, mostram-se necessários os esforços concertados das autoridades transnacionais para responder aos complexos desafios do novo mundo que nos rodeia.
 
A explosão das realidades étnicas
As identidades agitam-se no mundo com uma intensidade acrescida desde as últimas décadas do séc. XX.
Quase sempre, as tensões étnicas e separatistas são despoletadas pela pobreza e pela marginalidade em que vivem os seus protagonistas, contribuindo para múltiplos conflitos que, desde os anos 1980, têm ensanguentado a África, os Balcãs e o Médio Oriente, o Cáucaso, a Ásia Central e Oriental.
Ao contrário dos conflitos interestáticos do período da Guerra-fria, as novas guerras são maioritariamente intra-estáticas:           
Na região do Cáucaso, as tensões étnicas mostram-se particularmente violentas em território da ex-União Soviética;
No Afeganistão, as últimas décadas têm assistido a um crescendo de violência e desentendimento;
No Indostão, a Índia vê-se a braços com a etnia sikh, que professa um sincretismo hindu e muçulmano e que se disputa com a maioria hindu;
No Sri Lanka, a etnia tamil, de religião hindu, enfrenta os budistas cingaleses;
E no Sudeste Asiático, só em 2002 Timor-leste conseguiu libertar-se da Indonésia, depois de massacres cruéis da sua população.
Na verdade, o genocídio tem sido a marca mais terrível dos conflitos étnicos. Multidões de refugiados cruzam fronteiras, chamando o direito à vida que as vicissitudes da História e os erros dos homens lhes parecem negar. Os Estados mostram-se impotentes para controlar as redes mafiosas e terroristas que se refugiam nos seus territórios e actuam impunemente.
 
As questões transnacionais: migrações, segurança e ambiente
Dificilmente vivemos imunes aos acontecimentos que nos chegam pelos media.
As questões transnacionais cruzam as fronteiras do Mundo, afectam sociedades distantes e lembram-nos que a Terra e a humanidade, apesar das divisões e da diversidade, são unas. Resolvê-las, minorá-las, ultrapassa o controlo de qualquer Estado-Nação, exigindo a colaboração da ONU, de organizações supranacionais, regionais e não governamentais. 
Em 2000 existiam no Mundo cerca de 150 milhões de pessoas a viver num país que não aquele onde tinham nascido.
Tal como há 100 anos os motivos económicos continuam determinantes nas mais recentes nas migrações.
Mas os motivos políticos também pesam, especialmente se nos lembrarmos dos múltiplos conflitos regionais das últimas décadas.
A este estado de tensão e guerra se devem os cerca de 20 milhões de refugiados que o Mundo contabiliza no início do séc. XXI.
Os países com maior número de imigrantes encontram-se no Norte. Sem que possamos falar num aumento de imigrantes relativamente à população total do Globo, registam-se, no entanto, mudanças na sua composição. Há mais mulheres e mais pessoas com maior formação académica e profissional que outrora.
 Concertação, vigilância e cooperação. No início do séc. XXI, tais palavras revelam-se especialmente pertinentes, sobretudo se tivermos em conta os problemas de segurança com que a Humanidade se debate. Desde o 11 de Setembro de 2001 tornou-se impossível ignorar essa ameaça internacional que é o terrorismo.
De facto, nas duas últimas décadas, o terrorismo transformou-se numa ameaça à escala planetária. A Europa defronta-se com o terrorismo basco, irlandês, tchetcheno, albanês, bósnio. A América Latina vê-se a braços com os actos terroristas ocorridos na Colômbia. A América do Norte conheceu o atentado mais violento de que há memória. A Ásia defronta-se com o terrorismo religioso e político. Nem África escapa.
Às temidas armas nucleares acrescentam-se outros meios de destruição maciça: as armas químicas e biológicas. Por todo o mundo, espalha-se um mercado negro de armamento, controlado por redes mafiosas, que abastece os grupos terroristas. A moeda de troca é, frequentemente, a droga, fomentando-se, assim, um outro perigoso tráfico para a segurança da Humanidade.
ambientalismo constitui uma questão incontornável do nosso tempo e um desafio a ter em conta no futuro. Acelerou-se no último século, devido ao crescimento demográfico e das transformações económicas experimentadas pela Humanidade. A população mundial (em 1950 atingia os 2,5 mil milhões de seres humanos), mais do que duplicou até ao fim do séc. XX. Ora, mais população significa um acréscimo do consumo de recursos naturais, seja de solos, de água ou de matérias-primas destinadas ao fabrico de bens essenciais…e supérfluos.
A destruição de florestas tropicais é um dos efeitos do crescimento demográfico e da busca de recursos. A busca desenfreada de terras e a sua exploração intensiva, acompanhada da destruição de ecossistemas, tornam os solos mais vulneráveis à seca e à erosão. Os atentados à Natureza prosseguem num rol infindável de exemplos. O progresso industrial e tecnológico provoca avultados gastos energéticos e poluição.
Desde a década de 1970, os cientistas revelam também grande preocupação com a destruição da camada do ozono, essa estreita parte da atmosfera que nos protege contra as radiações ultravioletas. O “efeito de estufa”, ou aquecimento global, é outra das perigosas ameaças que pairam sobre a Terra. Resulta das elevadas concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, proveniente do crescimento populacional, do desenvolvimento industrial e da proliferação de veículos.
Em 1992, a Cimeira da Terra avançou com um conjunto de propostas tendentes à gestão dos recursos da Terra, para que a qualidade de vida das gerações futuras não fique hipotecada. A tal se chamou um “desenvolvimento sustentável”.
E se os países desenvolvidos gastam fortunas com a limpeza de rios e edifícios, o controlo de gases tóxicos, o tratamento de desperdícios e a reciclagem de materiais, tais esforços de preservação do ambiente mostram-se terrivelmente comprometidos, no superpovoado e pobre mundo em desenvolvimento.
De um desenvolvimento económico equilibrado e sustentável espera-se a saúde do planeta e o bem-estar da humanidade.
 
A afirmação do Neoliberalimo e o declínio da militância política e do Sindicalismo
Os choques petrolíferos da década de 1970, a inflação, o abrandamento das actividades económicas e o desemprego, testemunhavam uma poderosa crise.
Denominada de neoliberalismo, uma nova doutrina económica propõe-se reerguer o capitalismo tendo como grandes “laboratórios” a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.
Atento ao equilíbrio orçamental e à redução da inflação, o neoliberalismo defende o respeito pelo livre jogo da oferta e da procura, e envereda por medidas de rigor. O Estado neoliberal diminui fortemente a sua intervenção económica e social. Pelo contrário, valoriza a iniciativa privada, incentiva a livre concorrência e a competitividade.
No mundo dos anos 80, caminhava-se a passos largos para a globalização da economia.
A globalização apresenta-se como um fenómeno incontornável. Apoiadas nas modernas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), a concepção, a produção e a comercialização de bens e serviços, bem como os influxos dos imprescindíveis capitais, ultrapassam as fronteiras nacionais e organizam-se à escala planetária.
 
Dimensões da ciência e da cultura no contexto da globalização. Dinamismos socio-culturais
Os Estados recuam nas medidas proteccionistas e enveredam pelo livre-câmbio. Desde finais dos anos 80 que o comércio internacional acusa um crescimento excepcional, mercê de progressos técnicos nos transportes e da criação de mercados comuns.
Em 1995, a Organização Mundial do Comércio entra em vigor. Tendo em vista a liberalização das trocas, incentiva a redução dos direitos alfandegários e propõe-se arbitrar os diferendos comerciais entre os Estados-membros.
Deparamo-nos, consequentemente, na aurora do séc. XXI, com um fluxo comercial prodigioso, num mundo que quase parece um mercado único.
Às zonas da Europa Ocidental, da Ásia-Pacífico e da América do Norte, a chamada Tríade, cabe o papel de pólos dinamizadores das trocas mundiais.
Os movimentos de capitais aceleram-se desde os anos 80. As grandes bolsas de valores, como as de Nova Iorque, Tóquio, Londres e Singapura, mobilizam massas crescentes de acções, em virtude de um aligeiramento das regulamentações que pesavam sobre a circulação de capitais. Desde 1990, os investimentos externos ultrapassam, o montante de mil milhares de milhões de dólares.
Possuindo uma tendência para a internacionalização, as grandes empresas sofrem mudanças estruturais e adoptam estratégias planetárias.
Desde os anos 90, aumenta o número de empresas em que a concepção do produto ou do bem a oferecer, as respectivas fases de fabrico e o sector da comercialização se encontram dispersos à escala mundial.
Eis-nos perante as firmas da era da globalização, as chamadas multinacionais ou transnacionais. É essa lógica de rendibilidade das condições locais que conduz, em momentos de crise ou de diminuição de lucros, as multinacionais a abandonarem certos países. Encerram aí as suas fábricas e/ou estabelecimentos comerciais, para os reabrirem noutros locais. A este fenómeno chama-se deslocalização, sendo-lhe atribuída a principal razão do desemprego crónico que grassa no Mundo.
 
Dimensões da ciência e da cultura no contexto da globalização. Primado da ciência e da inovação tecnológica
O crescimento económico proporcionado pelo neoliberalismo e pela globalização suscita acesos debates em finais dos anos 90.
Os seus defensores lembram que as medidas tomadas permitiram resolver a gravíssima crise inflacionista dos anos 70, ao mesmo tempo que apreciáveis franjas da Humanidade acederam a uma profusão de bens e serviços.
 Já os detractores da globalização invocam o fosso crescente entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, frisando que, nas próprias sociedades desenvolvidas, existem casos gritantes de pobreza e exclusão. E apontam o dedo ao desemprego, verdadeiramente incontrolável.
A alter-globalização contrapõe-lhe o projecto de um desenvolvimento equilibrado, que elimine os fossos entre homens e povos, respeite as diferenças, promova a paz e preserve o planeta. Porque “um outro mundo é possível”.
ciência e a inovação tecnológica continuam a ter uma predominância no sector do investimento público, sobretudo naqueles países que não querem perder o “comboio” do progresso e desenvolvimento.
 
Portugal: a integração europeia e as suas implicações
Perdido o Império Portugal vira-se de forma determinada para a Europa, fazendo claramente umaopção europeia, apesar de haver aqueles que continuavam a preferir a opção atlântica tendo por base as nossas antigas colónias.
A verdade é que, aquando da instituição do poder democrático em Portugal nos anos 70, a ideia que prevalecia às políticas de desenvolvimento territorial (regional ou local) assentava principalmente num paradigma redistributivo, muito característico do objectivo “coesão”: dar mais aos territórios pobres do que aos ricos, de forma que aqueles pudessem, aos poucos, ir-se aproximando destes. Este paradigma redistributivo continua, claramente, a ser importante em termos europeus.
O nível local da administração portuguesa é, assim, chamado a dinamizar a iniciativa produtiva e inovativa, apoiando as empresas e outras organizações produtivas por processos que vão do abaixamento dos custos de instalação, à promoção de instituições formais ou informais de concertação e cooperação entre as unidades económicas, passando pela função de amplificação da voz das empresas e empresários da região ou de investimento activo na imagem externa do território.
A nível das iniciativas do poder central refira-se a modernização das vias rodoviárias portuguesas (empreendimentos co-financiados pelos fundos comunitários), que fazem equiparar Portugal, neste aspecto, aos países mais avançados da Europa.
 
A opção atlântica
A opção atlântica, no entanto, não ficou esquecida como prova a fundação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que é uma organização assinada entre países lusófonos, que consolida a aliança e a amizade entre os signatários. A sua sede fica em Lisboa.
A CPLP foi criada em 17 de Julho de 1996 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. No ano de 2002, após conquistar a independência, Timor-Leste foi acolhido como país integrante. Na actualidade, são oito os países membros da CPLP.
Apesar da iniciativa, a CPLP é uma organização jovem buscando pôr em prática os objectivos de integração dos territórios Lusófonos. Em 2005, numa reunião em Luanda, Angola, a CPLP decidiu que no dia 5 de Maio seria comemorado o Dia da Cultura Lusófona pelo mundo.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa abriga uma população superior a 230 milhões de habitantes, e tem uma área total de 10.742.000 km² - maior que o Canadá, segundo maior país do mundo. O PIB de todos os países, somados, supera US$ 1.700 trilião. A CPLP já foi decisiva para alguns de seus países (na Guiné-Bissau, por exemplo, a CPLP ajudou a controlar golpes de estado).
A Comunidade é regida pelo Secretariado Executivo, que estuda, escolhe e implementa planos políticos para a organização. Fica localizada em Lisboa. O mandato do Secretário Executivo dura dois anos e é passível de uma recondução.
A Conferência dos Chefes de Estado e de Governo, bienal, estuda as prioridades e os resultados da CPLP. O plano de acção é tomado pelo Conselho dos Ministros dos Negócios Estrangeiros e Relações Exteriores, que acontece anualmente. Há ainda encontros mensais do Comité de Concertação Permanente.
A bandeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ostenta oito asas em formato de círculo. Cada uma dessas asas representa um membro da CPLP