segunda-feira, 16 de maio de 2011

Felizmente há luar: Resumo (Simbolos, didascálias)

OS SÍMBOLOS:
Saia verde: A saia encontra-se associada à felicidade e foi comprada numa terra de liberdade: Paris. , no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas. "alegria no reencontro"; a saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança de que um dia se reponha a justiça.  Sinal do amor verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo aparentemente a dor e revolta iniciais, comunica aos outros esperança através desta simples peça de vestuário. O verde é a cor predominante na natureza e dos campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.
Título: duas vezes mencionado, inserido nas falas das personagens (por D.Miguel, que salienta o efeito dissuador das execuções e por Matilde, cujas palavras remetem para um estímulo para que o povo se revolte).
A luz – como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra associada à vida, à saúde e à felicidade, a noite e as trevas relacionam-se com o mal, a infelicidade, o castigo, a perdição e a morte. A luz representa a esperança num momento trágico.
Noite: mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismo
Lua: simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, representa: dependência, periodicidade. A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz do luar é a força extraordinária que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte. 
Luar: duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade.
Fogueira: D. Miguel Forjaz – ensinamento ao povo; Matilde – a chama mantém-se viva e a liberdade há-de chegar.
O fogo é um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.
Moeda de cinco reis – símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus.
Tambores – símbolo da repressão sempre presente.







Carácter interpretativo e simbólico
A saia verde
" A felicidade – a prenda comprada em Paris (terra da liberdade), no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas;" Ao escolher aquela saia para esperar o companheiro após a morte, destaca a "alegria" do reencontro ("agora que acabaram as batalhas, vem apertar-me contra o peito").
" A saia é uma peça eminentemente feminina e o verde está habitualmente conotado com tranquilidade e esperança, traduzindo uma sensação de repouso, envolvente e refrescante.
O título/a luz/a noite/o luar
O título é duas vezes mencionado ao longo da peça, inserido nas falas das personagens:
D. Miguel salienta o efeito dissuasor que aquelas execuções poderão exercer sobre todos os que discutem as ordens dos governadores: "Lisboa há-de cheirar toda a noite a carne assada. (…) Sempre que pensarem em discutir as nossas ordens, lembrar-se-ão do cheiro…"Logo de seguida afirma: «É verdade que a execução se prolongará pela noite, mas felizmente há luar…» - esta primeira referência ao título da peça, colocada na fala do governador, está relacionada com o desejo expresso de garantir a eficácia desta execução pública: a noite é mais assustadora, as chamas seriam visíveis de vários pontos da cidade e o luar atrairia as pessoas à rua para assistirem ao castigo, que se pretendia exemplar. Na altura da execução, as últimas palavras de Matilde, "companheira de todas as horas" do general Gomes Freire de Andrade, são de coragem e estímulo para que o povo se revolte contra a tirania dos governantes: "-Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! /Até a noite foi feita para que a vísseis até ao fim…/ (Pausa) / Felizmente – felizmente há luar!"Na peça, nestes dois momentos em que se faz referência directa ao título, a expressão "felizmente há luar" pode indiciar duas perspectivas de análise e de posicionamento das personagens:
As forças das trevas, do obscurantismo, do anti-humanismo utilizam, paradoxalmente, o lume (fonte de luz e de calor) para "purificar a sociedade" (a Inquisição considerava a fogueira como fonte e forma de purificação);
Se a luz é redentora, o luar poderá simbolizar a caminhada da sociedade em direcção à redenção, em busca da luz e da liberdade.
Assim, dado que o luar permite que as pessoas possam sair de suas casas (ajudando a vencer o medo e a insegurança na noite da cidade), quanto maior for a assistência isso significará:
- Para os opressores, que mais pessoas ficarão "avisadas" e o efeito dissuasor pretendido será maior;
- Para os oprimidos, que mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade.

 A fogueira/o lume
Após a prisão do general, num diálogo de "tom profético" e com "voz triste" (segundo a didascália), o Antigo Soldado, afirma: "Prenderam o general…Para nós, a noite ainda ficou mais escura…". A resposta ambígua do 1º Popular pode assumir também um carácter de profecia e de esperança: "É por pouco tempo, amigo. Espera pelo clarão das fogueiras…". Matilde, ao afirmar que aquela fogueira de S. Julião da Barra ainda havia de "incendiar esta terra!", mostra que a chama se mantém viva e que a liberdade há-de chegar.A linguagem em Felizmente Há Luar! é…Natural, viva e maleável, utilizada como marca caracterizadora e individualizadora de algumas personagens;Uso de frases em latim, com conotação irónica, por aparecerem aquando da condenação e da execução;
Frases incompletas por hesitação ou interrupção;
Marcas características do discurso oral;
Recurso frequente à ironia e ao sarcasmo.





A peça é rica em referências concretas (sarcasmo, ironia, escárnio, indiferença, galhofa, adulação, desprezo, irritação – normalmente relacionadas com os opressores; tristeza, esperança, medo, desânimo – relacionadas com as personagens oprimidas).
As marcações são abundantes: tons de voz, movimentos, posições, cenários, gestos, vestuário, sons (o som dos tambores, o silêncio, a voz que fala antes de entrar no palco, um sino que toca a rebate, o murmúrio de vozes, o toque de uma campainha, o murmúrio da multidão) e efeitos de luz (o contraste entre a escuridão e a luz; os dois actos terminam em sombra, de acordo, aliás, com o desenlace trágico).
De realçar que a peça termina ao som de fanfarra ("Ouve-se ao longe uma fanfarronada que vai num crescendo de intensidade até cair o pano.") em oposição à luz ("Desaparece o clarão da fogueira."); no entanto, a escuridão não é total, porque "felizmente há luar".

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